Ikaros Lamafet caminhava entre os corpos sem vida espalhados pelo chão. Seu mais recente triunfo na disseminação da fé o deixava satisfeito. Acompanhado de seu general e mediador, percorria a ensanguentada praça das flores em direção da mansão logo à frente.
Os ventos fortes sacudiam os adereços pendurados para a festividade que ocorreria ali, mas as lamparinas presas nos enfeites do varal não foram acesas, pois os cravos rosences não tiveram a oportunidade de iluminar a praça para a noite, interrompidos pela brutalidade do exército dos anjos e a chuva iminente.
Na maioria das vezes as águas durante festividade traziam a garantia de um bom ano da colheita, mas naquela ocasião, ela só mesmo serviria para lavar as ruas da selvageria do massacre.
Exausto, não pelo confronto, mas pelos desgastes da jornada do ide. Lamafet arrastou uma cadeira da mesa de um estabelecimento e sentou-se relaxando os músculos do esforço de sustentar sua armadura. Colocou seu elmo em cima da mesa, e acompanhava com os olhos a transição dos soldados pela vila.
"O que comemoravam?" pensou intrigado pela ornamentação do lugar. Limpou a garganta com uma tosse, permanecendo com poucas palavras. Ao seu lado, o general e mediador ficaram em pé como se fizessem a guarda do angelical.
Um dos soldados com o rosto molhado, seja do suor da batalha ou dos primeiros pingos de chuva subiu os cinco degraus que levava a praça das flores e agachou-se em reverência às autoridades.
— Que a graça esteja convosco! — Disse de cabeça baixa — General, julgamos êxito no domínio dos pagãos. Aguardo ordens para retornamos ao acampamento senhor.
— Retornaremos ao acampamento senhor? — perguntou novamente o general inclinando o rosto a Ikaros.
— Não, peçam aos homens que amontoem os corpos, limpem as casas, uma tempestade se aproxima, vamos passar a noite sob um teto seguro — ordenou Lamafet.
— Bendito sejam os anjos por nosso avanço senhor — respondeu o homem.
— Faça um discurso de vitória, peça aos homens que baixem as espadas e agradem-se de um bom vinho. O juízo foi servido. Se houver sobreviventes escondidos ofereçam-lhe a graça pela servidão aos anjos. "Servir, servir e será servido".
— "Servir, servir e será servido" — replicou em retirada.
Lamafet estendeu o braço sobre a mesa e arrastou seu elmo até próximo de si.
— Estarei retornando a Elosfouth ao amanhecer, levarei comigo parte dos homens, outra parte ficará aqui, construiremos uma fortaleza. Um apoio para as investidas para o leste. Me hospedarei essa noite naquela mansão — disse apontando a casa do barão.
— Permita-me dizer senhor, — disse o mediador encarando o líder — Todas as suas decisões até aqui foram corretas — colocou fora de contexto. O general quase enrijeceu o rosto em reprovação à bajulação do mediador, mas assentiu em concordância, analisando Ikaros e quis externalizar a aprovação.
A avaliação do mestre de guerra e do mediador envaideceu o elo da Força, que não disse nada em agradecimento. Mas levou os pensamentos a Valentina lançando um olhar vago para as bandeirolas que sacudiam com os ventos. "De certo a fé estará muito satisfeita com meus feitos" dizia a si mesmo.
Um marasmo repentino dominou os pensamentos de Ikaros, uma apreensão que não compreendeu. Achou que seria a necessidade da aprovação da Fé, ou o vazio de ter completado algo que ainda parecia incompleto. Ele pegou seu capacete da mesa e se levantou. Um trovão rasgou o céu e uma rajada de vento soprou tão forte que arrastou algumas das mesas pelo chão.
Internamente Ikaros sentiu um mal agouro, despiu-se por um instante de toda a autoridade que sustentou nos últimos tempos e esse segundo de devaneio foi notado.
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Aspirante à Obliteração
FantasyUm jovem de uma pequena cidade chamada Cravo e Rosa, tem um encontro com uma entidade que o marca e o cerca de mistérios. Um ancião da cidade identifica que ele é provavelmente, o ser que fora professado há cem anos, e o exila, forçando-o viajar o m...