Trakamalo Monge

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O balanço irregular das ondas fazia o bote balançar sobre as nauseosas ondas do mar. Jacinto está sentado sobre o assento de madeira que vai de uma extremidade a outra horizontalmente, até o dispositivo que sustenta os remos. Anroff estava deitado na outra extremidade da embarcação, ele descansava os olhos entreabertos, ainda dormia, mesmo as dezenas de sóis, e o unguento da rama roxa, não foram suficientes para curar totalmente os ferimentos da batalha. Mas certamente ele não teria sobrevivido aos ferimentos sem a especiaria.

— Anroff? — disse o monge ao minguante, estalando os dedos ao alcance de seus felinos sentidos, mas o minguante não despertava — está acordado? Anroff, estamos chegando a Pazzio.

O Monge expirou o estresse enchendo as bochechas de ar e soltou a pressão, enquanto continuava a puxar os remos conduzindo a embarcação à costa.

— Nenhum manuscrito citava que a rama roxa faria alguém dormir tanto assim. Será que foram os ingredientes a mais que coloquei? — perguntou-se o monge em voz alta. Apesar do peso dos últimos dias, das mortes e do perigo que correram, sentia-se aliviado por avistar as terras firmes, e ele levava os olhos ao minguante debilitado em sua frente e se enchia de contentamento. Uma alegria que dava forças ao gordo monge pra continuar remando a favor da maré.

O navio que os trouxeram até aqui, ficava cada vez mais distante, ao passo que as ondas empurravam o bote a ilha à frente.

— Quem diria Anroff? — continuou Jacinto em monólogo — lembro-me do dia que te vi se aproximar de Cais de Erel, eu me perguntava que tipo de aventura além do oceano esses navios encontravam. E olha só onde estamos? olha só onde eu estou! Um monge do Monastério das Oliveiras, cruzando o mar abordo de um minguante, eim? "Ohro!" — o monge achava graça em suas próprias palavras, e seu espírito estava contente. Ele parou de remar por cansaço e deitou na outra extremidade do bote, olhava fixamente pro amigo, e ainda conversava consigo mesmo.

— A lua te levou a mim? Ou minha projeção me levou a ti, Anroff? Não sei! Mas te agradeço por essa jornada, não sou mais o mesmo monge, sinto que sou um homem que entrou num rio e foi modificado pelas águas. Nada é mais o mesmo, nem eu, nem o rio. Se recupere meu amigo, estou te levando pra sua casa. — Jacinto respirou fundo, e se fez confortável para tirar um cochilo, as ondas estavam levando-os na direção certa, e ele quis descansar por um momento, visto que as dores do tumor em sua cabeça começaram a se fazer mais presente, as vezes até suficiente para desconfigurar o sorriso do Monge. Suas vistas se escureceram e ele se sentiu aconchegado, as águas tocavam a música do barulho do mar, e fez ele pegar num sono, e ele nem viu quando a maré carregou o bote para a orla da ilha de Pazzio, haviam chegado.

O arquipélago ao nordeste de Cais de Erel, que está em coordenadas pouco conhecidas, é tão raro de ser encontrado, que para alguns nem mesmo existe. Poucos piratas conhecem a sua orientação, e nem mesmo os mapas mencionam essas ilhas. O julgo popular prefere acreditar que são mais um dos contos de marinheiros, como a ilha das árvores sereias e o redemoinho de água que engole navios, e tantas outras histórias que entretém mesas de tabernas. Na verdade, as várias ilhas ao redor das terras conhecidas, por muito foram irrisórias para os historiadores. A maioria eram inabitadas, e os piratas de certa forma gostava da proteção das ilhas remotas, pois era ali, que encontravam abrigos quando naufragavam. Mas eles não mantinham em segredo, afinal uma boa forma de esconder algo para eles, era contar as histórias de forma que não acreditassem. E a ilha de Pazzio era uma dessas ilhas que se cria inabitadas ou inexistente. Esse fator dificultou para que o Monge encontrasse algum pirata que conhecesse tal ilha, nem ele mesmo sabia onde era, só sabia o que o minguante tinha compartilhado; o nome.

Assim que o bote encalhou na areia da praia, alguns druidas que vigiavam o afastamento do navio foram até a barco e não podiam acreditar em seus olhos, eles arrastaram o bote para dentro da floresta de bambu, que escondia a aldeia de visões indesejadas. O bote foi arrastado deixando um rastro largo na areia até se perder no verde da vegetação, ação imediata dos druidas ao verem quem estava no bote. Todos ali conheciam Anroff, todos ali esperavam Anroff voltar pra casa.

Aspirante à ObliteraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora