Os Três Campanários

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A vegetação alta daquela colina parecia familiar para Hanna, com certeza em poucos dias de viagem na direção certa ela chegaria em Cravo e Rosa, se esse fosse seu desejo, mas o grupo de caçadores tinha como destino a cidade dos Três campanários.

Depois de meses cumprindo contratos menores para se manterem, os gêmeos caçadores trouxeram uma série de trabalhos promissores para o grupo da cidade ao Sul.

A noite se aproximava e o grupo estava acampado em algum riacho qualquer, já Hanna andava em passos silenciosos se esgueirando nas altas ramas. Olhando fixamente as pegadas no chão, segurava o arco sem pressão no disparo.

Logo à frente, um veado distraído comia a grama, se distanciando do bando que já estava do outro lado do riacho. Hanna preparou o disparo, alinhando sua Flecha ao coração do animal. Não quis se aproximar mais da presa, confiante em seus lançamentos certeiros.

— Pists! — fez um som com a boca chamando a atenção do veado, que ao ouvir o som, ergueu a cabeça em alerta procurando a origem do chiado. No entanto, mais rápido do que seu reflexo animal veio uma flecha disparada do meio da mata que viajou a distância num piscar de olhos acertando a presa num abate limpo.

Hanna foi até sua caça e agachou-se, satisfeita pelo abate, pegou o veado com certa dificuldade e o ergueu jogando os quarenta pesos de carne em seu ombro. Não se importou com o cheiro que o animal deixaria em seu cabelo, nem com a mancha que algumas gotas de sangue poderiam deixar em suas vestes. Estava longe de ter a preocupação de uma delicada dama, bem mais próxima de uma grosseira caçadora.

Com sua caça pendurada nos ombros, Hanna fez o caminho de volta para o acampamento, depois de alguns meses se sentia muito mais confiante e forte. Força que ia além do emocional e era possível ver em seu corpo jovem tal vitalidade.

— Espero que os gêmeos ainda tenham bons temperos, esse veado tem bem mais carne que o porco de minha última caça — disse consigo mesmo enquanto avistava o grupo de caçadores logo a frente.

Desde que se juntou ao grupo há algumas estações, ficou responsável por prover a caça semanal, uma forma de manter em prática suas habilidades até alcançar a perfeição, ou mesmo, só um trabalho explorativo de quem integrou o grupo por último.

— Doran, tome! vocês que vão limpar a caça hoje né? — disse jogando o animal sobre uma mesa improvisada de madeira grossa que tremeu, quase desmontando e vindo ao chão.

— Tenha modos menina — gritou o gêmeo em resposta — eu sou o Loran, nunca vai aprender?

— Tanto faz a orelha — respondeu com pouco-caso, referindo-se a marca na orelha que diferenciava os gêmeos.

— Aliás, hoje o ensopado é por conta do Androni, se tem fome é melhor procurá-lo — respondeu Loran, apontando para o homem de costa sentado com o restante dos caçadores.

Sentados em volta dos gravetos da fogueira que iluminaria a noite por vir. Androni conversava com o mago Kyo o idoso prematuro de vestes escuras e com um chapéu negro tão grande que escondia todo seu busto, com o carniceiro, um homem alto e forte pouco amigável que carregava um machado tão intimidador quanto sua rude face, e o gêmeo Doran.

— Amanhã chegaremos nos Três campanários, poderíamos concluir esse contrato e encontrar algum lugar pra passar um tempo, os homens dos Elos estão por todos os lados, o que farão se souberem que domino a magia? — Disse Kyo, em alguma conversa que já haviam iniciado.

— Te matariam — respondeu Hanna juntando-se ao grupo.

— Hanna, não estamos tão longe de Cravo e Rosa, poderíamos... —Androni tentou trazer a ideia de irem para o pacífico lugar, o que não pareceu tão agradável para a jovem.

Aspirante à ObliteraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora