Caminho da Floresta Lunar

493 78 804
                                    

Anroff ainda com os olhos fechados, sentiu-se incomodado com um facho de luz que atravessava as brechas de uma janela mal posicionada no portal de madeira do quarto onde estava. recuperou a consciência antes de abrir os olhos, e sentiu o calor da luz que penetrava e iluminava a impureza do ar, e fazia visível partículas de poeira que dançavam ao vento.

Abriu os olhos e olhou ao redor procurando os poucos pertences que trouxera, uma bainha grossa sem espada preenchida com alguns itens enrolado em tecidos.

—Por quanto tempo dormi? —se perguntou. havia quinzenas solares que não dormia em uma cama confortável, e mesmo essa pouco aconchegante foi suficiente para estender o sono. Pôs-se de pé e caminhou para o cômodo da próxima porta a procura do monge. Não havia ninguém na casa, aproximou-se da janela e puxou a cortina um pouco para a direita e olhou na direção do barulho que vinha do lado de fora. Carroças carregadas rangiam com o compasso dos cascos dos cavalos que golpeavam as pedras no chão, havia também o som de muitas vozes que cruzavam palavras inaudíveis, e os altos gritos dos comerciantes sentados afrente de suas barracas.

Anroff recuou da janela e caminhou até sua bainha e retirou de lá duas adagas médias que estavam enroladas juntas com um tecido marrom. dias atrás ele teve que escondê-las, pois o comandante do navio que o trouxera a este continente adorava negociar as passagens com passageiros desesperados pelos itens que mais parecessem valiosos. e estas duas adagas certamente eram valiosas, o acabamento de seus pomos eram de prata, e os detalhes da guarda mão eram cravados com runas lunares com detalhes impecáveis. Ele sentou-se na cama que havia acabado de levantar e começou a riscar uma lâmina na outra, fazendo malabares com as adagas entre os dedos

—Talvez se eu vender minhas adagas eu consiga pagar um carroceiro que me leve até a floresta, a viagem pode ser muito perigosa para ir de quatro patas. —disse tão baixo que pareceu um pensamento. Como se houvesse se decidido, pôs-se de pé e saiu da casa, caminhou em direção a gritaria do comércio a algumas ruelas. sentiu-se um pouco mais seguro pela luz do dia, pois num dia normal de comércio achou que a cidade recebia clientes de todas as raças.

Antes mesmo de cruzar a primeira ruela, um grito ofegoso soou da outra direção da avenida. Jacinto vinha com uma carruagem puxada por dois grandes cavalos, acima da carruagem uma placa de médico balançava como se a qualquer momento viesse ao chão. Anroff, suspendeu a sobrancelha surpreso pela visão que tinha.

—O monge conseguiu uma carroça? —disse contraindo o lábio inferior performando um sinal de dúvida.

Jacinto estacionava a carroça em frente à sua estadia temporária e acenava com os braços e com a cabeça chamando o minguante pra dentro.

—Anroff! Minguante! — gritava. Anroff apenas fez um movimento com a cabeça aprovando o monge com um leve sorriso nos lábios. enquanto retornava, antes de entrar na casa avaliou o estado da carruagem que estava em estado médio de conservação, e olhou fundo nos olhos dos dois cavalos, como se pudesse ver através deles, os encarou por um breve momento e então os deixou. assim que entrou na casa foi tomado pela fala de Jacinto.

—Minguante, para onde ia? Veja, comprei mantimentos para nossa viagem, você não vai acreditar, consegui vender meu medalhão por uns bons trocados. o esperto comerciante, lógico achou que era falso, mas uma réplica perfeita, e me pagou suficiente para comprar essa carruagem. — O monge estava tão eufórico que nem respirava entre as frases, continuou;

—O vendedor, muito bom por sinal, disse que o médico havia morrido num assalto enquanto cumpria os ofícios na estrada, sabe como é... ócio do ofício. —Falava com sorrisos sem graça entre as palavras. Anroff não pôde deixar de ser contagiado pelo humor do monge

— Você é um monge muito diferente. —Indagou.

— Foi exatamente o que o comprador do medalhão disse!

Aspirante à ObliteraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora