A Grande Tarmak

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No balançar dos camelos, Ravih tateava a costura improvisada no corte em sua garganta. Uma costura mal feita, cruzados de linhas inconformes, que pareciam nada eficazes, feito com o que parecia ser um fio de cabelo grosso. Ele agradecia por ter encontrado os objetos para curativos do comerciante.

— Talvez o comerciante usava pra remendar os irmãos — pensou, ainda sentindo a saliva descer como uma lasca de vidro e fazia silêncio absoluto, evitando falar com medo de inflamar a enfermidade.

Celsius já havia feito tantas perguntas pra Ravih, que Dário já estava de saco cheio.

— O quê que você é Ravih? que magia o defendeu? Ah... Mako nessas horas faz falta — disse, desconfigurando os lábios com um bico.

— Você não se cansa Celsius? — perguntou Dário —não dá pra você se calar por uma manhã?

— Você só por que usou a espada tá se achando homem, né? — Celsius falava com risadas, como se isso deixasse a frase mais engraçada. Ravih no camelo à frente, deu uma risadela com a boca fechada, soprando o ar em soluços que alavancava seu ombro.

— Ahh... não tenho paciência para vocês dois, vocês são infantis! Não conseguem enxergar a gravidade de nada que está acontecendo — Dário parecia descarregar nas palavras seu estresse — nós fomos lançados a sorte na desgraça deste deserto, fadados a sei lá o quê, tendo nossas vidas sugadas por esse castigo miserável e ainda tenho que conviver com suas piadas infames, de quem não consegue ver que estamos caminhando pelo desconhecido, num mundo que está se acabando?

Dário falou sem colocar pausas entre suas frases, ficando até sem ar ao fim delas, e Celcius Rebateu:

— Não venha descontar sua frustação de adulto em mim, eu estou aqui porque eu quis estar aqui, e você porquê está aqui? por que o barão te deu este castigo? — a resposta de Celsius, como um empurrão de palavras, quase fez Dário cair do Camelo. E isso trouxe uma reflexão aos três ali, o que gerou um momento de desconforto. O filho do Barão não respondeu. Estimulou seu camelo se distanciando dos garotos para ficar um pouco mais à frente, sozinho.

Já no fim da manhã, Ravih coça a garganta com um rosnado e percebe que não sente mais dor nenhuma. Ele toca a ferida por fora e nota que havia começado a cicatrizar, como se houvesse dias do ferimento.

— Dário! — gritou ao homem à frente, Dário e Celsius tomaram um espanto pela voz de Ravih, e se encostaram nele.

— Eu... eu consigo falar — disse soprando sorrisos —Celsius, eu tô falando!

— Mas como pode? Nem mesmo era pra você está vivo! —disse Dário confuso.

— Filho de uma amancebada! Como isso pode ser verdade? — Celsius comemorou.

— Talvez o que o ancião disse seja verdade, talvez eu... eu não sei... — Ravih tinha um largo sorriso no rosto, mas ainda não conseguia entender o que havia com ele.

— Mas doeu? você sentiu dor? — perguntou Celsius.

— Eu senti tudo! Eu senti o frio da lâmina, senti ele rasgar minha pele e romper minhas veias, senti o gelar de meu corpo enquanto espirrava e pulsava o sangue pra fora de mim. Eu senti... morrer. Depois senti meus olhos arderem, queimavam e toda a dor foi direcionada a eles. Então eu apaguei. Dário, obrigado — disse mudando a feição — obrigado por ter nos salvo, eu sei que você não queria estar aqui, mas obrigado por estar. E Celsius obrigado por sempre estar comigo, você faz as coisas serem melhores de suportar.

Celsius é tomado por uma repentina emoção que encheu seus olhos de lágrimas e aqueceu o coração, mas logo fez questão de esconder o sentimento, quebrando o momento com uma piada.

Aspirante à ObliteraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora