Os Vassalos do barão Berigotan iam sentido a Cais de Erel temendo a escura noite na estrada do grão, suas carroças estavam fartas, atadas com feno cobrindo as cargas, essas que se balançavam folgando as amarras ameaçando lançar parte das bagagens ao chão se não reforçassem os nós em cada acampamento que pernoitassem. A colheita daquele ano havia superado os últimos cinco e os grãos que excediam as necessidades da província, eram levados a cidade comerciante ao Nordeste.
Quase sempre os vassalos conseguiam chegar ao seu destino, caso tivessem a sorte de não cruzar com os oportunistas de estrada. Hanna se balançava com a movimentação da carroça cruzando as más estradas muito longe de casa, sentada no assento sem acolchoamento apoiou a cabeça ao feno das amarrações atrás dela.
Divididos pelo condutor, do outro lado Androni dava umas olhadelas para a jovem, talvez com preocupação lançada pela responsabilidade de ter trazido a jovem consigo ou talvez por afeição que criou enquanto ensinava o básico de caça para a ruiva.
— Virar uma caçadora... o quê que essa menina tem na cabeça? — Se perguntou, enquanto se consertava no assento, suspirando alto.
— Para onde você disse que estava indo mesmo? — perguntou o condutor ao caçador em mais uma tentativa de iniciar qualquer conversa que findasse o silêncio incômodo que fazia desde o fim da tarde.
— Vou me separar de vocês na encruzilhada de Queenbed. Estou levando essa garota à cidade para aprender a fazer bolos e bordados — Androni disse com a naturalidade de quem ensaiou a mentira. Hanna do outro lado nada disse, apenas lançou um olhar torto, que demonstrava que ela queria jogar o caçador para fora da carroça. Mas estava em um dia menos enérgico do que o comum, então o silêncio foi a única coisa que serviu.
Já o condutor da carroça fingiu acreditar, conhecia a sobrinha do dono da pousada e sabia que se esse fosse o motivo da viagem dos dois, a destemida estaria amarrada. Assim, não quis ouvir mais nada para não se envolver, e ter poucas respostas quando for questionado sobre seu paradeiro ao retornar para Cravo e Rosa.
Hanna estava inquieta, e tremia a perna intensamente, demonstrando uma irritabilidade que não foi notada pelos seus companheiros de viajem.
— Ai, não vamos parar hoje? — inqueriu quase como um pedido.
— A lua cheia nos abençoa com sua luz, a estrada está muito bem iluminada, podemos avançar a noite inteira — respondeu o cocheiro.
Androni inclinou o torso para que conseguisse ter uma visão de Hanna, além da silhueta do condutor, e quase a chamou pelo apelido indesejado, mas ao reparar que algo em seu semblante estava diferente, preferiu apoiar a ideia de uma parada para pernoitarem.
— Posso fazer um ensopado com as caças que estão a perder, uma parada seria uma boa. Vamos homem, dê um descanso aos cavalos. — Disse Androni com o estímulo certo que fez o condutor receber a sugestão como uma boa ideia.
Assim que a carroça reduziu a velocidade, desviando-se um pouco da estrada, Hanna saltou de uma vez na ânsia de caminhar um pouco. Ela levou o braço direito sobre os seios, um movimento que parecia delicadeza durante o salto, mas na verdade procurava alívio para o mal-estar que sentia naquela região.
— Hanna, está tudo bem? Sua cara não está nada destemida — disse Androni se espreguiçando, curvou a coluna e abriu os braços como uma estrela, brincou — eu diria que está com saudades de casa, ou quem sabe do seu namoradinho Ravih?
— Você está escolhendo um péssimo dia pra me irritar Androni, vai acabar com uma flecha no ombro hoje — respondeu rispidamente.
Androni não estranhou as palavras da moça, mas o tom que ela disse não fez a resposta soar no mesmo teor que usou para importunar. O caçador estava acostumado a pagar pela companhia das mulheres, sempre compartilhando os bons humores e conviveu grande parte do tempo entre os bandos de homens da caçada, condição essa que nunca ensinou a entender os ciclos femininos tal como aquele momento.
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Aspirante à Obliteração
FantasyUm jovem de uma pequena cidade chamada Cravo e Rosa, tem um encontro com uma entidade que o marca e o cerca de mistérios. Um ancião da cidade identifica que ele é provavelmente, o ser que fora professado há cem anos, e o exila, forçando-o viajar o m...