A penumbra antecipava uma noite escura, algo percebido antes mesmo do sol encerrar seu turno, pois densas nuvens se formavam no céu pressagiando muita chuva. Os ventos fortes sopravam a vegetação preenchendo o ambiente com o som de pré tempestade. Por vezes um clarão trazia a luz relampeada seguida de trovões estremecedores.
Ravih, Dário e o minguante faziam o caminho de volta à cidade. Ravih estava satisfeito em voltar, estava com os olhos esperançosos, mas começou a sentir medo enquanto vagava em pensamentos.
O minguante pouco dizia, seguia o caminho calado, ainda se acostumando com a presença dos novos parceiros.
Já Dário os seguia a contra gosto. Seu descontentamento podia ser visto em sua expressão enrugada, preferia ir rumo a nordeste, mas não conseguiu nem convencer nem abandonar Ravih, ainda mais depois de terem enfrentado abatedores dos elos. Vez ou outra olhava para trás preocupado, sentia tristeza pelo encontro abandonado, queria responder a emoção, mas não conseguiu deixar a razão a de lado. Não conseguiu seguir um caminho diferente do de Ravih. Então abdicou de seus interesses.
— Ravih, se vamos voltar, você precisa considerar uma coisa — disse Dário sério enquanto andavam entre a vegetação.
— O que? — questionou Ravih, que andava bem mais próximo ao minguante.
— O minguante está certo! — disse Dário tendo a atenção dos dois — sobre o ataque, talvez os homens estejam lutando por Cravo e Rosa, tem que considerar que estamos em confronto. Talvez veremos coisas que nos desestabilize.
— Está falando de nossa gente morta?
— Sua cidade não tem defesas? — perguntou Anroff quebrando seu silêncio.
— Não, poucos homens na verdade. Vejo agora o descuido de meu pai por não ter tomado alguma medida pra esse dia, digo... sempre estivemos sob ameaça dos elos.
Anroff vagou o olhar, como se olhasse seus pensamentos.
— Temos algum plano? — Perguntou Dário, vendo os devaneios do minguante.
Anroff ainda os tinha como dois estranhos, nem mesmo seu nome havia compartilhado. Estava em uma luta interna em acreditar que seus caminhos se cruzaram por acaso ou se não havia nenhum acaso ali. Mas a inclinação de seu espírito o fez acreditar que além da Mabrangg, havia um motivo para estar ali.
— Diga logo o que pensa - exclamou Dário, irritado com os devaneios de Anroff.
— Conhecem a cidade, me levem a um lugar onde possamos ver a força do exército.
— Podemos te levar para o morro da árvore jimbo, podemos subir sem sermos vistos — disse Ravih considerando as rotas que fazia para subir o morro tempos atrás.
— E seu parceiro está certo quando diz que podem se deparar com o pior dos elos. Eu mesmo já o vi pessoalmente.
— Você é o minguante que lutou na floresta queimada né? Eu já ouvi a história — relatou Ravih — Você já venceu um exército.
Anroff não respondeu, confirmando apenas com o consentimento de estar calado.
A noite havia lançado um completo breu, Ravih cobriu as laterais de uma lamparina para que só iluminasse o caminho sob seus pés, afim de não chamar a atenção de nenhum soldado dos elos que buscassem por fugitivos. Praticamente, seguiam Anroff que não fora afetado pela escuridão. O morro era íngreme, coberto por densa mata. As árvores desabrochavam em tons alaranjados, revelando galhos entrelaçados. Raízes salientes dificultavam a ascensão.
"Então é verdade que enxergam no escuro" constatou Ravih em pensamento. As habilidades de um minguante eram comuns, ele mesmo cresceu as ouvindo. Achava que parte de do que ouvia não fosse real, pelo efeito de repasse da mesma história. Então admirou-se com o que viu até agora. Se contentaria mais em sentar e fazer várias perguntas para o ser em outra ocasião que não fosse um ataque.
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Aspirante à Obliteração
FantasyUm jovem de uma pequena cidade chamada Cravo e Rosa, tem um encontro com uma entidade que o marca e o cerca de mistérios. Um ancião da cidade identifica que ele é provavelmente, o ser que fora professado há cem anos, e o exila, forçando-o viajar o m...