Cravo e Cinzas

31 3 0
                                    

A paz das celebrações da festividade de Cravo e Rosa foi tomada por um desespero e gritaria pelas ruas. Os jovens que animados para a bebedeira da noite encaravam a chegada do exército se questionando se no fim de tudo teriam que lutar. Nem mesmo os homens feitos sabiam responder indagação. Mães pegavam seus filhos pelos braços, arrastando-os para o aglomerado de pessoas que se amontoavam às portas da mansão do Barão Leonard. Sabiam que cedo ou tarde esse ataque chegaria e também sabiam que a cidade pouco podia fazer em contragolpe, até mesmo achavam que já estavam prontos pro cerco dos elos, mas bastou as armaduras douradas brilharem marchando em sua direção, que viram que ainda não estavam prontos para enfrentar o juízo.

Apesar da falação aterrorizantes vindo do lado fora, os portões ainda estavam fechados, o Barão ainda não havia se pronunciado, dentro dos muros a mesma tensão tomava os líderes à mesa, suas caras já demonstravam que esperavam o ultimato.

— Chegaram dois dias antes do esperado, se já não teríamos chances, imagina nessa condição — disse um dos barões.

— Sabíamos que esse dia chegaria, porque suas caras estão tão amedrontadas? — sibilou o velho ancião — todos os caminhos levam a obliteração. Esperamos agora que o jovem consiga cumprir seu papel e nos vingue.

— Não vamos morrer, não precisamos morrer...— emendou Leonard, encarando as pessoas do lado de fora por uma abertura que fez na cortina da janela.

— Mas o que está dizendo?

— Vamos aceitar a graça dos anjos. Pelo bem do povo, aceitaremos a graça. Ravih carrega nossa crença com ele, não importa se eles vão destruir o que temos aqui, enquanto o jovem viver nossas crenças vive.

A mãe de Ravih, que estava sobre guarda dos barões, chorava em um dos cantos da sala.

— Tania, — disse o Leonard se aproximando, parecia que era o único que enxergava a dor da mãe — Não se preocupe, Ravih já partiu, entenda que o que estamos fazendo é para que tudo dê certo para ele, e para nós. Aceitaremos a "graça" dos anjos.

— Eu acho justo, pouparemos nossos homens. Além do mais, nem demos a chance de escape ao povo. Precisamos nos salvar — disse o barão Berigotan.

— Está decidido, então. Aceitaremos os termos dos elos.

— O quanto acha que isso vai nos salvar? — perguntou o ancião.

— Salvará alguns de nós — concluiu Leonard.

Do lado de fora da mansão, todos da cidade pareciam ter ido para lá na busca por algum tipo de proteção ou orientação. A cidade nunca havia sido atacada antes. Os cravos-rosenses não sabiam o que fazer.

***

No Acampamento improvisado a pouco mais de mil jardas do vilarejo, um outro conselho de guerra andava entre os soldados que levantavam as tendas do exército.

Os tecidos brancos estavam tão sujos e surrados, que não pareciam mais o glorioso exército angelical. A falta de brilho no aço e o desgaste das armaduras, combinavam com suas feições. Apesar de fazerem tudo pela fé em seus anjos, o desânimo e cansaço de uma longa jornada de conquistas, afetavam até mesmo a aparência do exército. Talvez se precisassem lutar, fossem vencidos pelo esgotamento.

A fadiga apenas não alcançava Ikaros Lamafet, pelo contrário, as vitórias só aumentavam seu orgulho. Poder chamar a si mesmo de obliteração havia dado a ele confiança, mas guardava a soberba para quando voltasse para Elosfouth.

— "Força em tudo" — pensou, mantendo o foco nas estratégias de batalha.

Ao seu lado, caminhavam o mediador, o comandante de batalha e o bipo dos anjos. Avançaram atravessando o campo florido onde os soldados descarregavam as carruagens e martelava as estacas para erguer acampamento.

Aspirante à ObliteraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora