Uma Procissão de Tirar o Fôlego - Interlúdio III

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O badalar do sino da torre da igreja de Aphanael foi o primeiro a ser ouvido, e os pardais que tinham seus ninhos sobre os contrapesos do mecanismo, voaram em disparada assustados pelo ressoar do tinido. Lá embaixo uma mulher segurava a corda que subia e descia como uma gangorra, conforme o sino dançava se mostrando pelas laterais da torre, esforçando-se para garantir que o badalo acerte a campânula e a harmonia do som fosse constante.

Era o feriado da procissão dos Anjos em Elosfouth, e como de costume, a celebração começava no raiar dos primeiros fachos de luz, os quais já começavam a lançar o brilho nos vitrais das janelas.

Os braços da serva que puxava a corda, já haviam adormecidos e o som do badalo ensurdecia momentaneamente seus sentidos, mas ela ignorou qualquer moleza do corpo, pois tinha prazer em servir aos Anjos. Todos os sinos, de todas as igrejas de Elosfouth, toaram como uma banda por um tempo. Era como o som da Obliteração citado nos livros, que dizia que todos ouviram um zumbido por dias, pois não havia um só lugar dentre os muros, que não estivesse escutando os badalos.

Desde a alta sociedade, a baixada da pobreza, os possuidores de títulos e o clero dos Anjos, todos guardavam suas melhores vestes para aquele dia. Joias, tecidos, ouro e penteados eram exibidos por todos que podiam ostentar.

— É o dia dos Anjos! — diziam a si mesmo pra justificar o exibicionismo.

Amontoados nas calçadas, os bem vestidos para o passeio da procissão, aguardavam o iniciar da atividade e a julgar pelo movimentar dos fiéis ao redor, acendendo as velas, ajustando os estandartes e preparando as rosas no andor onde as estátuas seriam carregadas, não demoraria muito até que começasse. E pouco tempo depois, saindo do templo da sabedoria, o cortejo da procissão deu início ao percurso que passaria pela cidade inteira.

Um servo de batina, coberto por uma capa pluvial, carregava ao centro da rua, um longo estandarte dourado com o emblema dos Elos. E puxava a ala de fiéis que caminhavam em fila, de cada lado da rua. Todos de batinas, a quantidade de pessoas era vasta, filas longas se encaracolavam nas ruas, segurando velas com as duas mãos juntas, na altura do peito.

Cinquenta jardas atrás, um bispo de cada lado da rua, seguravam os estandartes vermelhos do anjo da força duas jardas acima de suas cabeças. Os quais se balançavam com o vento da manhã, jogando os tecidos para trás. O andor de ouro, que quatro soldados carregavam, trazia a estátua do anjo da força. Os fiéis que o seguia, segurava velas tão grandes quanto espadas, referenciando o exército angelical.

Mais adentro no desfile, os estandartes verdes antecediam o andor do anjo da justiça, e a fileira de fiéis atrás da estátua carregavam turíbulo, que eles balançavam segurando pelas correntes dissipando a fumaça incensaria no ar.

Os próximos estandartes azuis, anunciavam o andor do anjo da sabedoria, seguido por servas que carregavam os livros dos estabelecidos.

E por último, nos tons de amarelo, o andor do Anjo da fé trazia a estátua angelical para o passeio nas ruas. Seguido pelo coral que quebrava a regra das duas fileiras, e se posicionavam por um quarteto de linhas, ecoando os coros que davam a cerimônia o tom sagrado.

O trajeto dos fiéis levou a manhã inteira pra ser concluído, e depois de perambular por todas as ruas pavimentadas de Elosfouth, seguiram para a praça de Aphanael para deleitarem do banquete a céu aberto do meio do dia, e onde também, a Fé encerraria os trabalhos vespertinos.

Suas barrigas já tinham sido saciadas, quando a hora mais quente do sol alastrava um cansaço sobre a multidão. Quem não conseguia manter uma boa conversa para ficar acordado, lutava contra o sono pós refeição do meio dia enquanto esperavam os Elos aparecerem para continuar os trabalhos.

Aspirante à ObliteraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora