A lei dos Anjos

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— Pascoal? — disse Basílio, dando um passo na direção do regente da Fé, mas não ouviu uma resposta. O líder da Fé ainda estava prostrado, encarando a minguante enjaulada. Da posição que estava, Pascoal apenas lançou a mão direita sobre o ar um pouco acima do ombro, interrompendo qualquer outra fala que Basílio planejava proferir. A Fé virou-se, caminhando sem esperá-los.

— Convoquem uma reunião de guerra com os líderes e encarregados do Elo, temos decisões importantes a discutir. Não deem à minguante nenhum calmante, quero que ela acorde, precisamos extrair alguma informação útil dela. E quebrem suas pernas, na verdade, esmague-as, não vou arriscar ser ferido por essa aberração.

— Vós ouvistes, homens, esmaguem as pernas dela —ordenou a Força. Pascoal continuou:

— Façam com que todos estejam no Salão Arquejudicial em duas horas. — Ele se aproximou de um porta-bandeira a cavalo e sussurrou algo em seu ouvido. O porta-bandeira ouvia, apenas balançando a cabeça em sinal positivo, e saiu em disparada, honrado por receber um pedido diretamente da Fé. Os Elos entraram na carruagem que os trouxera e as rodas giraram aceleradamente, em direção ao distrito da Justiça.

— Me diga, Lamafet — disse Pascoal, fixando os olhos no exterior, enquanto a carruagem cruzava a cidade —, como conseguiram capturar uma minguante? Não se ouve falar de nenhum há anos, a ponto de se crer apenas em sua lenda.

Lamafet se sentia orgulhoso por surpreender o líder dos Elos. Em dias comuns, havia certa competição de poder entre os regentes, mas a convocação para uma reunião de guerra, elevava gravemente a situação, então este não era mais um dia comum. Lamafet explicou:

— Já há algumas semanas venho enviando comboios para explorar a área da floresta. Estávamos desenhando um mapa que nos permitirá irmos direto ao centro da aldeia, temos perdido alguns soldados lá. Muitos não voltam, quando avançam na floresta, mas acredito que incêndio seja o recurso mais eficaz, podemos fazer algum progresso lá, mas indo direto ao ponto.

Em uma dessas explorações, ainda antes da cachoeira das águas-cobre, um grupo de mercenários das aldeias próximas de Cais de Erel foi até um comandante e disse que teria algo a nos oferecer, que haviam capturado uma fada mágica que seria do interesse dos Elos. Inicialmente, o comandante não deu crédito ao mercenário, mas avaliou o percurso que o negociador tinha viajado para chegar ao encontro deles e sentiu que, realmente, os mercenários poderiam ter algo.

"Se o que tem é tão bom, porque não leva pro comércio da cidade do cais?", questionou o comandante.

"Ora, contrabando de pessoas é crime, por aquela região" respondeu o mercenário.

Isso foi o suficiente para fazer o comandante subir no cavalo e segui-lo até a aldeia.

"— Certamente, um prisioneiro de guerra!" — pensou o comandante, pois esses alvos eram comuns para a Caçada Mercenária. Se fosse um bom nome conseguiria a gratitude dos Elos.

— Faça esse comandante usar uma armadura de alto escalão — interrompeu Pascoal, encerrando a conversa. — E mande mais recompensas aos mercenários. É bom fazer crescer vínculos que fortaleçam os Elos. Lamafet continuou a falar, mas a carruagem fez uma frenagem brusca e parou no meio da rua.

— Regentes? — soou uma voz, se aproximando da carroça.

— Ótimo... a Sabedoria — disse Basílio, irônico, abrindo a porta da carruagem.

— Pascoal, o que estão fazendo? O que querem fazer?

— Kahagi! Ora, onde está tua devoção? — disse Lamafet. — Que a graça dos anjos esteja convosco!

Aspirante à ObliteraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora