Deserto Sanud, Dilúvio de Areia

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Os capitães de areia já haviam iniciado a expedição para as incertezas do deserto. Um grupo de quarenta e dois guerreiros se balançava aos gingados dos camelos. Trajando roupas de combate leves e tecidos finos para diminuir a exaustão, usavam mantos e faixas de tecidos, que enrolavam suas cabeças protegendo o nariz e boca da areia que se fazia visível nos redemoinhos ou em qualquer sopro ao redor.

Destacando-se entre os Capitães, o jovial Cravo Rosense mantinha seus olhos na paisagem à frente, para as dunas amareladas com costelas de areias que fervilhavam sob um céu completamente alaranjado, sem uma única nuvem para projetar uma sombra e criar nem que seja por um instante, uma proteção contra os olhos do astro.

Os primeiros dias de peregrinação ainda não judiavam dos andarilhos, sendo ainda possível achar beleza na visão desolada e contando que suas reservas ainda tivessem água, os perigos da jornada ainda se mostravam incertos.

Ravih tinha um manto azul, encapuzado, com acabamento nos contornos de um floral dourado. O tecido caía sobre as ombreiras, uma peça adaptada para uma armadura leve, cobrindo os ombros e o antebraço ligando os lados por uma tira de couro que cruzavam seu peito e as costas, oferecendo mais beleza do que proteção. Como arma, tinha preso à sua cintura uma bainha que balançava uma espada comum, um pouco melhor do que a dos treinos com Berik, certamente mais afiada.

A inexperiência do jovem o fazia inseguro e ele tentava normalizar sua presença entre os Capitães. Mas o som dos murmúrios entre os soldados que viravam os rostos para trás contrastando Ravih, começou a chateá-lo e ele se sentiu com humor de Dário para aquela falação. Estimulou o camelo se aproximando dos homens que ajeitaram suas posturas quando o assunto chegou.

— Vocês querem me perguntar alguma coisa? – surpreendeu Ravih aqueles homens com a ousadia de fala.

— Que desejo suicida é este o seu? — disse o homem fazendo piada que soou jocosa para Ravih.

— Disseram que precisavam de alguém para juntar seus corpos — disse Ravih entrando no jogo dos homens.

— Ooh — exclamaram os homens entre risos, instigados pela acidez do diálogo.

Um dos Capitães que Ravih havia ajudado há um tempo, o reconheceu e aproximou seu camelo ao grupo.

— Hrãn, olha só! fácil de te reconhecer, seus olhos te entregam. — Disse o homem — Capitães, esse garoto que estão zombando, foi o quem me ajudou na minha última expedição. Se algum de vocês quebrarem o braço recomendo que recorram a ele. E eu espero que você, que eventualmente precisar, não esteja fazendo piada dele agora.

A exortação fez o grupo se espalhar e qualquer piada perder a graça.

— Obrigado! — disse o de olhos corado.

— Não precisa agradecer, se encontrarmos a distorção que eu vi da última vez, vamos realmente precisar que você conserte nossos membros. Mas eles têm razão, sua figura se destaca em nosso meio. O que, pelos sóis, está fazendo aqui? Você nem mesmo um guerreiro Sanud é.

— Não sei! Meu espírito diz pra eu fazer algo e eu faço.

— Então seu espírito quer morrer — afirmou o homem —Eu sou o Capitão Renê.

— Sou Ravih de Cravo e Rosa.

— Isso é um título?

— Não — respondeu com um leve sorriso — é minha cidade, todo mundo de lá tem orgulho de falar de onde é, sempre falamos assim.

— E o que de tão bom tem neste lugar?

— Paz! As crianças são crianças, os campos são verdes, muita festa e bebidas.

Aspirante à ObliteraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora