Travessia, Força em Números

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As carruagens levantavam poeira, em alta velocidade rumo ao Norte, saindo de Elosfouth. Elas desfilavam, saindo do Panteão de Lamafet e passavam pela larga rua, cruzando as moradas de lordes, influentes e casas populares. A exibição fazia parte dos Elos, e nessa tarefa o próprio regente da Força estava à frente, então seria essa uma exibição à altura.

A comitiva passava em aldeias e mais aldeias, demonstrando o poderio militar dos Anjos e, em uma dessas carruagens reais, Lamafet olhava pela janela e via fiéis levantarem lenços acima de suas cabeças e balançá-los em sinal de boa esperança. Outros erguiam as mãos e gritavam bem-dizeres "Que a graça dos anjos os protejam", e as crianças corriam às portas de suas casas para verem a passagem dos homens e poderem imaginar quais aventuras seriam desbravadas, e tinham o rosto cheio de alegria ao encarar os soldados que, às vezes, respondiam com um olhar de volta. Lamafet até sentiu essas vibrações o fortalecerem e mostrava imponência na postura. "Força em números", pensou.

— Façam uma pausa.

— O que, mestre? — perguntou o escudeiro da Força.

— Estou cansado, quero esticar as pernas, faça com que parem.

O escudeiro foi, às pressas, até o condutor da carroça e fez com que a carruagem frenasse de imediato. Com um bocejo contagiante, Lamafet abaixou a cabeça e passou pelo portal da carruagem e andou até um arbusto à beira da estrada.

— Prepare minha armadura — disse ao escudeiro —, continuarei o percurso cavalgando, todos esses dias nesta carruagem está me fazendo perder a agilidade — acrescentou, sem nenhum pudor, desabotoou a cinta da sua cintura e afrouxou as calças, segurando seu pênis para fora e aliviando-se num longo jato de urina, que durou tempo suficiente para deixar incomodadas as pessoas ao redor.

Olhou para todos os lados e levantou a sobrancelha contraindo o lábio inferior, impressionado pelo exército que comandava, havia muito tempo que não via uma tropa desse tamanho reunida para a batalha. "Força em números."

Não consertou as vestes, andou até o escudeiro que retirava, com um tecido, qualquer acumulo que ofuscasse a deslumbrante armadura de batalha e já posicionava as amarras da armadura, deixando pronta para ser vestida.

— Quanto tempo até a floresta? — perguntou a um sacerdote que sentava à frente da grande carruagem.

— Chegaremos ao amanhecer — respondeu de prontidão. — Todas as outras tropas já estão posicionadas.

— "Outras tropas", Pascoal quer mais que uma carnificina, ele quer uma exibição, metade deste exército daria conta — disse, exercitando o braço.

— Escudeiro, porque tanta demora com essas amarras? —perguntou, rudemente. O pobre do escudeiro não teve resposta, mas sentiu a testa orvalhar de suor.

— Pronto senhor — disse, dando um tapinha na iluminada armadura angelical.

***

Os primeiros raios de Sol ainda não haviam alcançado o topo das tendas armadas no acampamento improvisado próximo à entrada da floresta, a comitiva de Lamafet, porém, já tinha chegado e já desfilava no enorme campo entre punhados e mais punhados de soldados, que ainda se espreguiçavam com o som de uma corneta anunciando a chegada da liderança. Foi na maior das tendas que Lamafet desceu do cavalo.

— Quem está no comando? — perguntou.

— Eu, meu mestre — respondeu o chefe de batalha, Ludel. — Estou a serviço dos anjos, é uma grande bênção...

— Deixe as formalidades para outra hora. Estamos em combate, não precisamos de diplomacia, me informe sobre o ataque.

— Estávamos esperando vossa chegada, temos uma legião de soldados devotos à nossa fé, mais de cem carruagens com inflamáveis trabalhados e temos, é claro, a ala de machados pronta para o combate. Não avançamos até a sua chegada, os homens que foram à frente eram atacados e não voltavam.

Aspirante à ObliteraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora