Só os assobios e uivos dos ventos que moviam as areias eram ouvidos acima do castelo soterrado. Depois de um tempo em sono necessário para recuperar a energia, Ravih despertou-se deitado no chão onde havia desfalecido, sentiu o rosto amortecido por um monte de areia e o mundo girava em sua volta como a pior das ressacas. Teve a visão chamuscada quando ergueu o tronco sentando-se no chão, apoiando um braço no joelho. Ainda sentindo seus olhos esfriarem como uma brasa mal apagada.
— Entrevida? Que lugar era aquele? O lago, os sonhos, profecia... que pífia é essa que está acontecendo? Isso não foi um delírio, era muito vivo.
Abrir meus olhos, abrir meus olhos?... O que isso significa? Eu estou cansado disso, perdeu a graça há tempos — Ravih pensou sobre tudo isso, enquanto massageava o ferimento em sua barriga, reparou que estranhamente leves rachaduras cercavam a pele cicatrizada, como a argila rachada de um poço seco. Não podia ver, mas as mesmas rachaduras trançavam seu pescoço e as regiões oculares.
— Estou rachando? Nunca vi cicatriz desta natureza — falou encarando a inconformidade em sua barriga. Mas logo superou suas indagações, conseguir voltar à Tarmak era sua preocupação sendo o único sobrevivente da batalha.
O grande buraco de onde a distorção caiu no teto do castelo lançava uma luz nos destroços do meio do salão. Os corpos e escombros resultantes da batalha já estavam meios cobertos, visto que da abertura, um véu amarelado caia incessantemente, como a areia de uma ampulheta no avançar das horas.
Ravih se colocou de pé e encarou a distorção carbonizada por uma chama negra que emanou de seu corpo com o sair da vida, a chama parecia sucumbir o resto da distorção desse mundo e era um fogo que não era comum de ser visto. Os vestígios de Renê e os outros soldados despedaçados compunhavam a cena da pós batalha do salão.
— Espero que seu deus tenha aceitado suas ofertas — disse enquanto sacudia a poeira de seu capuz azul. Sentia menos medo agora, na verdade estava tomado por confusão e sede, uma sede que sabia que se não saciasse dentro das ruínas, não aguentaria cruzar o deserto de volta.
— O sacrário, se ele estiver aqui tenho que achá-lo, e pôr um fim a essa loucura do rei. O quê que há na cabeças desses reis? sacrifícios, adoração a objetos? Não me estranham os castigos que vieram a si.
Ravih andou até a escuridão das ruinas e continuou a descer pelos destroços do que foi um dia uma civilização, a solidão de andar sozinho fez o caminho silencioso e quanto mais descia os escombros em exploração, mais o silêncio dominava os ouvidos.
Apesar da terra, ossos e destroços por todos os lados, a condição do lugar lançava um mistério.
— Essas tempestades... Por que essa cidade foi soterrada desse jeito?
Vagando os olhos de onde viera, encarou as ossadas humanas em decomposição, uma fileira de ossos corroídos e esfarelados mortos em posição de rogo sem a benção de um enterro propício. Ravih se guiou pela direção em que os homens rezavam lembrando-se das imagens de oração nas pinturas da cidade, lembrando que o costume deles era rezar para o sacrário.
Após seguir os esqueletos chegou em uma capela abaixo de uma cratera onde agora os ossos se amontoavam de forma a elevar um monte de ossos como uma cripta ao descaso. Ele teve certeza que o sacrário estaria ali.
Enquanto andava em direção a entrada, ouviu um grito acima, parecia estar distante entre os ventos fortes, uma voz de uma criança, distante e triste.
— Irmããã. Onde está? Não se lembra? Você prometeu que veríamos as areias se moverem juntos. — gritou, seguindo o lamento com um choro antes da tempestade dissipar o som. Naquele momento Ravih sentiu seus pelos arrepiarem, e considerou que havia começado a ter alucinações.
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Aspirante à Obliteração
FantasyUm jovem de uma pequena cidade chamada Cravo e Rosa, tem um encontro com uma entidade que o marca e o cerca de mistérios. Um ancião da cidade identifica que ele é provavelmente, o ser que fora professado há cem anos, e o exila, forçando-o viajar o m...