Capítulo Quatro

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— Não sou eu quem vai se casar com ela! — Érico argumentou.

— Isso não deve ausentar suas aulas de etiqueta — Sua mãe rebateu e pelo seu sorriso convencido, não deu brecha nenhuma para que seu filho treplicasse. A rainha sabia ganhar uma discussão quando se empenhava e, geralmente, ela se empenhava muito em ganhar dos filhos.

Sentados a uma mesa em uma das salas do palácio, Érico e Arniel vestiam-se de modo mais elegante possível. Suas roupas eram feitas sob medida e suas joias eram únicas, especialmente para seus dedos e pescoços. Érico tinha anéis em todos os cinco dedos da mão esquerda e sua orelha ostentava um brinco com uma única pedra de diamante. Ele gostava.

Arniel, por outro lado, tinha anéis em todos os dedos e usava abotoaduras de ouro, que brilhavam com ajuda da luz elétrica.

As costas do príncipe doíam pelo esforço de se manter ereto e quieto o tempo inteiro. Ele sabia que as mulheres faziam isso o tempo todo, quase sendo estátuas que só sorriam e piscavam, e ele acha agora que todas merecem um prêmio por tal feito.

Isso é como o inferno, pensou.

Há muito tempo treinava para disfarçar o que pensava e o que falava, uma coisa sempre era diferente da outra. Enquanto sua mente trabalhava com mais afinco que suas palavras demonstravam, suas expressões eram serenas e comportadas, de um bom garoto que com certeza, sem sombra de dúvidas, não pensa em rasgar as roupas que está usando e sair correndo para se trancar no quarto.

— Já aprendemos isso milhões de vezes — seu irmão veio em sua ajuda —, nós temos consciência do que fazer e do que não fazer na presença da princesa. Não deve se preocupar tanto.

A mãe olhou para eles como se não acreditasse.

Mas no fim cedeu quando uma mulher entrou e fez uma reverência para lhe entregar uma carta. A rainha dispensou os dois com um aceno e eles puderam, enfim, respirarem e deixar a postura um pouco mais desleixada.

Érico tirou os anéis e colocou todos no bolso. Não entendia a necessidade de mostrar que tinha tanto dinheiro o tempo todo, ora, eles já moravam em um palácio e eram um dos únicos em Valência que possuía luz elétrica.

Arniel não tirou os anéis, mas sua postura voltou ao normal.

— A princesa vai sair correndo assim que encontrar com nossa mãe — cochichou.

— Será que gritaria?

— Me surpreenderia se não gritasse.

Os meninos riram.

A mãe olhou severamente para eles. Rosamires odiava quando tentava ler e alguém a atrapalhava, seja quem fosse.

Eles resolveram sair do quarto antes que ela decidisse iniciar mais uma aula de etiqueta sobre como se portar à mesa, sobre quais assuntos abortar com uma dama ou coisas do tipo.

— Você quer se casar? — Érico perguntou ao irmão quando chegaram ao corredor.

Havia guardado esta pergunta há três dias e aproveitou que estavam sozinhos para finalmente fazê-la. Ele observou bem a expressão do irmão. Esperou algo como nojo ou animação, nada de meio termo, afinal, ele e o irmão já haviam conversado e feito muitas coisas. Houve um dia em que eles falavam o que os atraia mais em uma mulher, momentos em que conversavam sobre como a puberdade, a mudança dos seus corpos, era esquisita e ao mesmo tempo, boa.

Érico não esperava que o rosto do seu irmão mostrasse o mais completo... nada. Vazio como se ele fosse um daquelas pessoas pintadas nos quadros que ficavam nos corredores da ala oeste, onde o quarto dos seus pais ficava. Havia dezena de quadros que Érico teve medo quando criança e evitava olhá-los quando passava por ali. Seu irmão está como as pinturas.

Coroa, Flechas e Correntes (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora