PARTE QUATRO: RYDA

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CAPÍTULO SESSENTA E UM

Sua cabeça parecia pesar uma tonelada e um pouco mais. Ao despertar do seu sono, Lipe soube que não estava na cama confortável do palácio de Mifram, ou na cabana em Sinka. Seu corpo estava torto de um jeito preocupante por cima de um lençol puído, no chão. E havia ruídos ao redor, vozes que ele não conhecia falando apressadas, sussurrando, e ele tem quase certeza de que escutou a palavra "adubo" ser pronunciada por alguém. Ainda tentando raciocinar e conhecer as dores que estavam no seu corpo inteiro, Lipe piscou e olhou para um teto de madeira e depois, como se estivesse submerso, olhou para o lado, onde alguém estava sentado de pernas cruzadas usando... um lençol colorido?

Sua cabeça doeu, como se catucada por uma vara diretamente no cérebro.

Ele não queria sentir aquela pontada de novo, por isso escolheu permanecer de olhos fechados, com a cabeça contra o chão que não cheirava bem e tentar decifrar o que as pessoas ao redor — seus sequestradores, sua mente relembrou, mas dose nenhuma de pânico o tomou; estava dominado por uma esquisita paralisia de seus sentimentos — falavam.

— É perigoso — uma voz feminina disse.

— Não temos escolha — uma voz masculina, dessa vez.

— Podemos pensar em algo melhor — disse, uma outra voz feminina. Macia, mas desesperada.

Alguém pareceu gemer, frustrado. Lipe pensou que poderia ter sido o homem.

— Não podemos. Não há tempo.

— Eles não parecem em perfeitas condições.

— O tempo está contra nós — o homem retrucou e parecia recusar qualquer outra coisa que não suas palavras. — Tudo está.

— O que contaremos a eles, então?

— A verdade — a voz feminina, Lipe não sabia dizer qual delas, ou a diferença entre elas. Ainda se sentia embaixo d'água.

E então todos se calaram ao ouvirem o rosnado de uma fera.

— O grifo deve ter despertado primeiro.

— Colocamos ele para dormir de novo?

— Não. Os garotos devem acordar a qualquer momento. Vamos esperar.

Lipe não sentia vontade de acordar, na verdade.

Tudo nele estava lento, até seus pensamentos. Sua língua estava pesada contra o céu da boca, e ele não sentia a ponta dos dedos. Sua cabeça voltou a doer e quando sentiu que iria adormecer de novo, não relutou. 

Coroa, Flechas e Correntes (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora