— Eles estão aqui! — Gritou assim que quase derrubou a porta da casa.
Seu peito estava queimando e seus dedos tremiam pelo frio. Cíntia avançou ao seu lado, à procura de Aurora. Quando todos apareceram à sala, Lipe falou o mais depressa que seu escasso fôlego permitiu.
— Eu vi... Voando... Cíntia e eu... Eles estão vindo para cá e estão com uns goblins juntos. Estão com um enorme exército vindo direto para cá!
Um segundo foi o necessário para que as pessoas na sala começassem a falar e a andar, apressadas. Quando Ryda apareceu, com Joaquim atras dele, Lipe teve de falar de novo. Não conseguia parar de tremer.
— O que faremos? — Aloísio estava pálido. Lipe temeu que ele fosse desmaiar. Isso seria um problema no meio de dezenas.
— Vamos para Mifram — Aurora disse, decidia — lá poderemos nos equipar.
— Não — Érico retrucou — temos que ir para Hend. Meu irmão está lá. Temos que encontrá-lo. Se pegarmos ele, pode mandar que os soldados parem.
— Não podemos fazer isso desarmados!
— Mas...
— Todos vocês, quieto! — Ryda abrira caminho por eles e ficou no meio da sala. Suas mãos já estavam brilhando. — Vou abrir um portal. Vocês devem entrar nele sem hesitar. Entenderam?
O portal era uma fenda na realidade, diferente da cor dourada nas mãos do feiticeiro, o portão parecia-se com um espelho, um mar acinzentado que tremeluzia.
— Vão! Não me ouviram?
Tayson puxou Antônia pelo braço e a levou para o portal. Os dois foram juntos, de uma vez, seus gritos engolidos pelo portal. Um a um, o grupo foi sumindo dentro do portal até sobrar apenas Ryda, que suava, Lipe, Joaquim e Érico.
— Eles estão atrás de nós. Não há nada aqui que já não tenham destruído. Entrem. Irei logo em seguida.
Érico hesitou ao dar o primeiro passo; ele olhou pela janela. Estava à procura de algo e Lipe pode perceber que ele queria ver o irmão. Lipe o puxou.
— Não temos tempo. — Disse.
Os três pularam no portal e foi como mergulhar, só não havia umidade nem a certeza de que aterrissariam em areia fofa da praia, seus corpos ficaram suspensos e seus olhos cegos por uma luz ofuscante. Então eles foram cuspidos em uma ilha. Areia entrou em sua boca. Desorientado, ele a engoliu.
Sua crise de tosse fez seu corpo ter espasmos violentos enquanto sentia alguém alisando suas costas e outra pessoa segurando sua cabeça. após cuspir o máximo de areia que conseguiu, Lipe olhou ao redor e viu seus amigos, o encarando com preocupação.
— Estou bem — arfou e cuspiu um pouco mais.
Sua garganta arranhou.
Olhando ao redor, a tempo de ver Ryda saindo do portão sem cair na areia, ele percebeu que tudo o que havia em volta era apenas o mar. A ilha era enorme, sim, mas não se via mais terra a não ser que apertasse bem os olhos, então uma faixa marrom aparecia no horizonte, como uma cobra adormecida.
— Estamos no Oceano Limbo — avisou o feiticeiro espanando a própria roupa com as mãos. Ele parecia cansado.
O sol do verão em Valência massacrava-os.
— Estou em casa — ele ouviu Érico murmurar, infeliz.
— Estamos — retrucou ele, ainda sentindo grão de areia na língua. A sensação era incômoda, mas ele não queria abaixar a cabeça e cuspir novamente.