As pessoas haviam deixado suas flores nos degraus do palácio e no Bosque, os guerreiros e a princesa olhavam para uma parte na terra onde a grama não estava perfeita. A terra batida não dominava muito e a coroa de flores colocada ali era apenas um acrescimento que logo sumiria. Érico encarou aquilo do melhor jeito que pôde, mas não conseguiu deixar de pensar que o tumulo parecia simples demais, que as dores não pareciam ser o bastante — pelo menos para si.
Ninguém falou nada. Os minutos parados encarando o tumulo se arrastaram. Os que tinham que chorar, choraram. Os que murmuraram adeus saíram logo depois. Érico foi o último a se retirar, a terra sob seus pés havia decorado a forma dos seus pés calçados e seu corpo inteiro estava tenso como a corda de uma viola. Sentou-se, de repente, como se um enorme peso tivesse o derrubado. Não havia mais lágrimas para serem derrubadas, porém, a dor do começo voltara com força em seu peito, o estrangulando, pressionando sua cabeça até ela estar no solo.
— Você está por aí? — Sussurrou para o nada.
Esperou a resposta vinda de uma pessoa translúcida. Nada aconteceu.
— Por favor, se mostre para mim — implorou —, consigo ver fantasmas desde que era uma criança. Pode confiar em mim, sabe que pode.
E não importou quantas vezes Érico implorou junto ao tumulo, nada aconteceu, nenhum fantasma apareceu para ele.
Derrotado, ele voltou para o palácio.
Após o jantar — em que ele não comera muito, de qualquer forma — se encontrava em seu quarto, ouvindo Lipe contar como foi a experiência de visitar várias lojas com uma garotinha que ele não lembrava o nome depois que Lipe disse. Sua mente não retinha nada por mais que se esforçasse. Quando Lipe terminou de contar, Joaquim perguntou se ele se sentia bem.
— Sim, estou bem — e tudo é uma completa mentira.
Estava sentindo toda a impotência de antes e sentia-se sujo, com raiva e ainda mais triste, como se fosse afundar de repente, como se o escudo que tivesse levantado anos antes agora não servisse para absolutamente nada.
Não era justo o que ele estava passando. Perdeu seus pais, seu irmão, um amigo em um curto período de semanas. Já sentiu tanto medo nestas semanas que sabia exatamente o gosto que inundava sua boca. Um gosto férrico. Sabia a sensação nos ossos: congelar. Eram esses os passos para o medo dominar seu corpo.
— Fiquei pensando, sabe.
— Hum? — Perguntou — Pensando em quê?
— No que a garotinha disse.
— Disse... Disse o quê? — Sua cautela em perguntar pelas coisas que não havia prestado atenção era cômica e Lipe riu. Érico temeu que ele ficasse chateado, não que risse dele.
Foi bom, de qualquer forma. Fez com que um burburinho de calor tomasse seu peito por um instante.
— Que você iria se casar com a princesa.
O sorriso de Érico se alargou de modo que, depois de um segundo encarando Lipe e Joaquim fazerem o mesmo, eles começaram a gargalhar.
— Está quase na hora — Joaquim disse, um momento depois, e pegou de dentro de uma sacola de papel pardo três fitas coloridas.
Ah — pensou.
Ele havia esquecido que haviam combinado de ir à ponte amarrar os laços nas barras. Uma das formas do povo de Áurea demonstra seu luto.
As fitas eram da cor laranja, roxa e azul. Érico pegou a azul. Lipe ficou com a laranja e Joaquim com a roxa.
— Acha que devemos perguntar se Vossa Alteza quer ir?