Capítulo Sessenta e Dois

5 1 0
                                    

Ele acordou no seu palácio. Em sua cama. O sol banhava as paredes, que tinham papel de parede cor vinho com a flor de lotos em diversos pontos, uma abaixo da outra. Sua cama tinha lençóis brancos que machucaram sua visão por brilharem à luz do sol. Ao olhar para sua janela ele percebeu que ela estava do modo como se lembrava: Fechada e com grades.

Não era o melhor cenário do mundo, repetidas vezes fazia com que Érico se sentisse deprimido, mesmo assim, era a sensação de normalidade que o deixava confortável assim que pôs pés no chão, um criado bateu à porta de seu quarto.

— Entre.

O homem vestia sua habitual vestimenta cinza e luvas brancas, o sorriso contido ao fazer uma mesura exagerada e desejar bom dia a ele. Érico achava, ainda a esta altura, estranho que as pessoas fizessem mesuras para ele. Até sua mãe parecia incomodada às vezes, seu pai e Arniel pareciam não ligar.

O mordomo escolheu suas peças de roupas após preparar seu banho, que tomou sozinho. Não gostava de ter alguém para supervisionar seus banhos, homens ou mulheres, ele gostava de ter privacidade. E gosta de analisar seu corpo sempre depois de se secar.

Olhar seu corpo havia se tornado um hábito ruim que ele guardava apenas para si. A verdade é que não gostava do corpo que tinha. Seu corpo era magro e terrivelmente pálido, sem músculo, sem nada para qual alguém realmente poderia olhar. Seus cabelos eram louros, seus olhos de um verde intenso, isso era lindo, mas não fazia com que ele se sentisse de fato, belo.

Até mesmo seus dedos pareciam salsichas pálidas.

Seu corpo parecia errado, de alguma maneira. Ele se viu tocando em suas costelas, então parou e decidiu ir vestir-se antes que o mordomo suspeitasse que havia acontecido algo com ele.

— Perdão — disse, um tempo depois, após vestir suas roupas e abotoar as abotoaduras douradas —, mas eu não sei seu nome.

O homem limpou as mãos na roupa e fez outra mesura exagerada.

— Meu nome é Lipe, Vossa Alteza.

— Lipe — Érico experimentou esse estranho nome em seus lábios. Gostou da sonoridade e de como seus lábios se tocavam singelamente na última silaba.

Era um belo nome.

Arniel apareceu ao seu lado enquanto se dirigia até a mesa para o desjejum.

— Mesmo com paredes tão espessas, eu ainda consigo ouvir você gemendo à noite inteira!

Ao ouvir tão declaração ao invés de um caloroso "bom dia", Érico franziu o cenho para o irmão de um jeito irritadiço.

— O que quer dizer? — Sibilou.

Arniel lhe deu um sorriso maldoso que só ele conseguia fazer quando queria provocar seu irmão mais novo. Um sorriso em que levantava apenas o lado direito dos lábios.

— Ah, você sabe, os pesadelos. Desde que voltou daquele passeio você tem ficado estranho.

— Estranho, como?

Estava com medo de que seu irmão dissesse a palavra proibida. Aquela que começa com L.

Não se lembrava de pesadelo algum, muito menos de um passeio.

— Você teve cinco pesadelos esta semana. Mamãe anda preocupada.

— Aonde fui? No passeio, digo.

— Á Mifram. Fomos visitar Aurora. Não me figa que esqueceu estamos noivos. Ou que vamos ter um irmãozinho.

As notícias atingiram Érico direto em seu âmago. Ele ficou sem palavras por tempo o suficiente que que Arniel o encarasse com uma sobrancelha arqueada. Fora poupado de responder à pergunta silenciosa ao chegarem à mesa e encontrarem seus pais.

Coroa, Flechas e Correntes (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora