— Seu irmão vai voltar para Hend! — Ryda gritara do lado de fora do quarto, fazendo com que Joaquim perdesse o equilíbrio ao tentar vestir a calça. Lipe o segurou antes que caísse; os movimentos dele ficaram mais rápidos desde que começou os treinamentos.
— Já vamos sair!
Ryda esperou pacientemente em frente à porta.
Ao sair, apontou para o braço de Joaquim. O que ele havia machucado.
— Sarou depressa, não é? É a minha magia, faz os ferimentos sararem mais rápido!
— Hã... Obrigado. — Ele nunca achou que fosse agradecer por ter magia dentro dele. Havia uma porção de coisas que nunca achou que fosse grato este ano.
— Venham, venha.
A sala agora já não tinha mais o pano de mesa, havia cadeiras de madeira escura, cada uma com uma almofada de cor diferente. Lipe sentou-se na que ficava mais perto da janela, onde a almofada era verde. Érico sentou-se entre Tayson e Aurora e Joaquim sentou-se perto de Messina, que sorriu para ele. Ela tinha um corte na bochecha que estava sarando.
— Não pode pedir para ele curar? — Sussurrou.
— Me sinto desconfortável quando ele usa magia — a última palavra ela disse com estranheza, como se não a conhecesse. Simplesmente não a usavam mais. Magia era algo desconhecido, nenhum deles havia presenciado-a até agora, quando Ryda bateu palmas duas vezes e a lareira acendeu.
Aquilo despertou a atenção de todos imediatamente.
A luz alaranjada do fogo fez com que os brilhos de Ryda ficassem mais intensos. Joaquim nunca iria entender a cor exata daqueles olhos, ou porque o feiticeiro colocava pó de ouro ao redor deles. Ficava engraçado, bonito, mas mais engraçado.
— Arniel vai retornar a Hend. — Anunciou novamente, mais alto.
Pela janela, Quito levantou sua cabeça da neve para escutá-lo, mas ao perceber que o feiticeiro não se dirigia a ele, enfiou de volta o bico na neve fofa.
Pelo menos um de nós está se divertindo, pensou.
— Como tem essa informação? — Aurora questionou, alisando as penugens de sua almofada amarelada.
— Eu passei a noite refazendo o feitiço da Espionagem, pude ouvir e ver tudo o que ele falava. Algumas coisas não entendi. Algum de vocês sabe o que é uma prostituta?
Antônia beliscou o braço do irmão quando ele iria responder.
— Ai!
As bochechas de Lipe e de Érico — que se lembrou do momento em que o rei Anton lhe enviara uma prostituta ao seu quarto, em Sinos — coraram furiosamente. Joaquim não soube o que fazer, por isso agarrou a almofada azul que estava em seu colo.
Ryda disparou a rir ao ver o constrangimento no rosto de todos.
— Estou brincando com vocês! Sei o que é uma prostituta. — Como ninguém sorriu de volta, ele tossiu, pronto para um novo assunto. — O que eu tenho para falar pode ser um pouco chocante, mas, seu irmão está com um livro que achei que estar desaparecido há muitos anos.
— Que tipo de livro?
— Um livro de feitiços que nenhum mortal deveria ter — sua voz agora tomara um tom sombrio. Nada de sorrisos ou espaço para gracejos. — Aquele monstro que vimos. O nome dele é Ash. Um demônio que vive entre os enviados ao quinto círculo do Inferno e...
— Quantos círculos o Inferno tem? — Tayson questionou. Ryda olhou para ele de cara feia e Antônia o beliscou uma segunda vez — Ai! Foi apenas uma pergunta.