A voz do seu pai, lhe contando uma história, lhe veio à cabeça de repente: Em Hend se valoriza a força. Somos o reino mais forte, aquele onde todos devem se curvar. Em Mifram, eles elogiam a elegância, lá é onde as armas dos excertos eram feiras, e é lá onde se tem a maior beleza das armas. Em Esilhas, os casamentos são venerados, sabe o que essa palavra significa? Casamentos são tudo. Em Santina, há muitas joias. Ah, os terrenos de lá são muito valiosos. Em Donvi... — ele se lembrava que neste momento, seu pai suspirou de raiva. Não era comum ver o rei contando uma história para os filhos, mas, após aquele suspiro raivoso e os olhos com um brilho maldoso, Érico pôde reconhecer seu pai. — Donvi é um monte de erros. O último de nós a se formar e mesmo assim, não obteve grandeza alguma. Todos os reinos têm algo de bom, Érico, mas Donvi não tem. É um reino agourento. Você tem que escolher um lado um dia. Então escolha certo.
E passou pela sua cabeça agora que, ele não queria ter que escolher.
Vendo Joaquim arquear as costas sob o toque de Lipe, que o agarrava pela nuca, suas cabeças se movendo devagar e, daquela distância curta, ele ainda conseguia ouvir os suspiros deles. Não queria ter que escolher um deles, queria ter os dois. Porque os conhecia tão bem quanto conheceu seu irmão ou os caminhos do seu palácio, estava tudo ali, na sua cabeça.
Quando os dois se separaram e o olharam, Érico perdeu o fôlego. Tudo foi puxado de repente, como alguém varrendo seus pensamentos, a força de suas pernas, o seu ar, e deixando apenas seu corpo oco, que logo saberia o que fazer quando os lábios de Lipe se aproximaram do seu pescoço, carinhosamente o mordiscando enquanto Joaquim o beijava na boca, experimentando seus lábios de novo e de novo, como se não os conhecesse já havia dias, como se não se cansasse de conhecê-los.
Não queria ter que escolher nem um deles, porque queria alguém que o mordesse, com força, como sabia que Joaquim faria se pedisse, os dedos dele eram fortes e o seu abraço parecia ser o de um urso. Joaquim adorava depositar toda sua força em um beijo ou um abraço, simplesmente era o que ele fazia, e não machucava. E queria alguém que beijasse suas feridas, que fosse carinhoso, e sabia que essa pessoa era Lipe. Não tinha como não pensar que não era ele, porque era, e, condenado fosse, Érico estava louco para tocar neles e saborear seus lábios, fazê-los ficar tão zonzos quanto ele está agora.
Sem pensar, ele cochichou para os dois:
— Preciso tocar em vocês. Não há anda que eu queira mais.
E depois disso, sua mente enuviou,
O sol da tarde, queimando suas peles, ficou por trás das árvores quando eles saíram do milharal, ofegantes e suados, sorridentes e constrangidos minimante. Não importava, Érico concluiu enquanto andava com eles para o palácio, o que seu pai disse sobre escolher, ou o que Esilhas tinha a dizer sobre casamentos. A felicidade não tinha nada a ver com acordos, com anéis ou toques. Ele descobriu que a felicidade tinha a ver com sorrir o tempo todo para as pessoas que você gostava e pensar: Estamos juntos.
Ao entrar na banheira, Érico se limpou dos requisitos do momento anterior. Ainda havia um esboço de um sorriso quando entrou no palácio, mesmo o olhar hostil do rei Anton não fora capaz de desmanchá-lo de seu rosto.
Encostando a cabeça na borda, ele passou a olhar para o teto do banheiro, sua mente voando de pensamento para pensamento.
Como sempre acontecia quando ficava sozinho, ele se sentia horrível.
Queria poder murmurar o nome da sua mãe ou chamar pelo seu pai, para saber se a forma fantasmagórica deles poderia aparecer de repente. Nunca o fez, ainda assim. Parecia ser tão errado que ele tivesse a chance de poder ver seus pais, mas estava com medo de o fazer, ainda mais agora, tendo feito o que fez, e tendo decidido que seu coração pertencia a dois garotos e não a uma das princesas. A vergonha poderia estar no rosto do seu pai caso ele decidisse aparecer... Érico suspeitou que não aguentaria ver a mesma expressão de constrangimento no rosto quase totalmente translúcido da sua mãe.