Antes de sair de casa, Joaquim prometera a Clemente que se algo desse errado, mesmo que não seja sua culpa, ele acharia uma oportunidade de não ser pego.
Joaquim sorriu tranquilamente enquanto marchava para fora de casa e disse: — Eu nunca sou pego.
Ao chegar no castelo, sentiu-se pequeno como um dente-de-leão em meio a um bosque de pinheiros. Não sabia por que suas pernas travaram em frente aos portões, demorando quase um minuto inteiro para decidir mostrar ao primeiro guarda de armadura e espada que viu. O que notou, antes de falar, foi que as espadas estavam dispostas na cintura, e não às costas. Eram apenas objetos cortantes de enfeite, não as usariam caso não fosse necessário. Era o modo do rei de infligir medo.
Joaquim se juntou a um pequeno amontoado de pessoas perto de um arbusto grande e esférico, que tinha uma luz elétrica dentro e aquele foi o seu primeiro momento admirando a luz elétrica, que se mostrou como mágica, pois não tremeluzia como a luz de uma vela, e parecia que, se alguém deixasse, aquela luz poderia ficar ligada para sempre, nada ousaria apagá-la.
Olhando ao redor, Joaquim percebeu que só havia seis pessoas consigo. Duas mulheres alas e muito magras, o restante, homens que deviam ter quarenta anos. Ele era o único jovem e o único que parecia bem de saúde e levemente alimentado, sem manchas no rosto ou dentes faltando. Um dos soldados do rei chegou perto e os guiou, sem delicadeza alguma, até uma câmara. Joaquim entrou em pânico internamente, pensando que era uma armadilha, assim como as armadilhas que ele montava na floresta com Clemente. Iriam matá-lo.
— Espere — ele sussurrou, mas ninguém o escutou. Estava sendo levado junto com aquelas pessoas e logo depois, trancado na câmara escura. Havia um zumbido no escuro, e para ele aquilo soou como o rosnar de uma fera.
Começou a hiperventilar de repente, sentindo seu corpo todo murchar.
Uma eternidade pareceu ter passado antes que jatos de água caíssem em cima de todos eles, fazendo alguns ofegarem, surpresos.
Banho, pensou mais tranquilo. Apenas um banho.
Não havia muito espaço; ele sentia os braços das outras pessoas em seu corpo e as roupas delas, grudadas nas suas, mas não havia problema desde que continuasse vivo. Quando seu coração começou a se acalmar, a água foi acabando até que por fim, sumiu completamente. E a porta da câmara foi aberta novamente, e todos foram guiados até uma sala externa, onde tiveram que trocar de roupas um na frente dos outros. Joaquim nunca tirara a roupa na frente de outras pessoas e não ia começar a fazer aquilo só porque entraria no palácio. Esperou que todos tivessem saído e trocou de roupa antes que outro cavaleiro aparecesse, o que não demorou a acontecer. Todos pareciam estar andando mais rápido que o normal, querendo que as coisas se resolvessem o mais rapidamente possível.
Cada um recebeu um par de roupas. Camisas de botões, branca, com abotoadores pretos. Calças e sapatos pretos. Não enviaram ninguém para arrumar seus cabelos ou lhes dar algo para mastigar, foram apenas as roupas e logo depois, o cavaleiro disse que eles teriam quer ir.
— Ir para onde, senhor?
— Para o salão — o homem pegou sua espada e, por um segundo, ninguém respirou. Mas a espada serviu apenas para mostrar o caminho.
Todos seguiram naquela direção, sem a ajuda de mais ninguém. o que foi uma boa coisa para Joaquim, que já estava ficando nervoso por estar perto de pessoas armadas sem que ele mesmo estivesse aramado também.
O salão tinha igualmente aqueles arbustos com luzes dentro e era aberto em todas as direções de sua geometria esférica. Não havia portas ou janelas, não era uma tenda, era uma enorme construção de tijolos brancos e caminhos de tijolos dourados, com vinhas subindo as paredes externas e mais luzes cegante no teto. Joaquim percebeu que estava de boca aberta. Nunca vira tanto luxo em um único lugar. E se sentiu raivoso.