Capítulo Treze

59 14 4
                                    

Bico apareceu logo depois de ele cruzar a porta

— Isso é perigoso!

— Sei disso. Mas fiz um acordo.

— O rei vai ficar furioso.

— Sei disso também — Érico resmungou sobre seu ombro.

Olhou para trás apenas para confirmar que estava sozinho no corredor. Apesar de ter deixado o lampião dentro da sala, conseguia saber que havia luz mais à frente, mesmo que pouca.

Conseguia distinguir os traços de Bico e a ponta de seus próprios dedos.

— Preciso de ajuda, Bico.

— Quer que eu chame Ari ou Chico?

Érico negou com a cabeça.

— Não vamos chamá-los. Ari vai ficar furiosa conosco dois se souber do acordo e Chico... Ele também não irá gostar. Preciso da sua ajuda.

— O que quer que eu faça?

Érico explicou o melhor que pôde. A ideia ainda estava se formando na sua cabeça, havia lacunas, chances de tudo ruir, mas tinha que acreditar que conseguiria cumprir o acordo e chegar em seu quarto antes da meia-noite.

Ao retornar para a sala, Érico parou por um momento para observar as costas daquele rapaz que não sabia o nome. Só sabia que ele trabalhava no castelo, e que hoje pela manhã, foi a primeira vez que o viu. E que também, foi a primeira vez que sentiu que seu coração iria pular para fora da garganta com um simples sorriso em sua direção.

Se um sorriso tinha esse poder sobre ele, Érico não queria imaginar ter que pensar nos sorrisos dos próximos dias no palácio. — Mesmo que estivesse ansioso por isso, mal sabendo.

— Ela falou algo? — Questionou assim que chegou perto.

— Não, senhor. Apenas sumiu.

Era verdade, havia apenas o lixo que seu pai jogara na água para irritá-la e a densidade escura do recipiente. A sereia estava fora de vista.

Ouviram um imenso barulho as suas costas e, ao se virarem, se depararam com um enorme baú de madeira, trago pelo garoto de cabelos castanhos com franja.

— Consegui — o garoto ofegou.

O cheiro que vinha de dentro do baú fez Érico enrugar o nariz.

— O que é esse cheiro?

— Não importa. Ela tem que entrar aqui. Só vamos conseguir tirá-la do palácio aqui dentro.

Os três se viraram para o aquário.

Érico foi o primeiro a se pronunciar, pedindo que a sereia aparecesse.

— Não irei entrar — a voz dela rastejou até eles — está com o sangue daqueles que nasceram nas águas.

Sangue de peixe, o príncipe pensou. Por isso o cheiro lhe enjoou tanto. Era peixe. E sangue.

— É sua única chance — sua mente trabalhou para achar as palavras corretas — e não será nossa culpa se o acordo for desfeito. Cumpri minha parte o melhor que pude.

O silêncio foi a única resposta para o príncipe. Por enquanto.

— Precisarei de ajuda para sair.

Os garotos olharam para os lados, sem ideia de como fariam aquilo.

— Me ajudem.

Aproximaram-se dos caixotes.

— Um de cada vez.

Coroa, Flechas e Correntes (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora