Capítulo Sete

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O mordomo tinha uma voz alta e desprovida de emoção quando disse:

— O rei e a rainha de Mifram, junto com a Vossa Alteza, a princesa Aurora.

Seu coração ganhou um ritmo mais acelerado do que ele achou ser possível.

Quando seus olhos pousaram no rei e na rainha, nada aconteceu, mas quando pousou na princesa, a primeira coisa em que pensou foi: Minha nossa.

A princesa Aurora poderia ter levado apenas um segundo para ter se sentado depois que a família real se levantou para cumprimenta-los adequadamente, mas para Érico foi como se ela estivesse andando em câmera lenta, seus passos eram planejados mesmo que ela nunca tivesse vindo a Valência, ao palácio, antes. Fazia tudo com maestria e o cheiro de rosas a seguia, como a ventania seguia Ari. A princesa sentou-se em frente ao seu irmão, o rei e a rainha se sentaram mais perto dos seus pais, como planejado. Eles logo foram servidos, mas Érico não notou as mãos dos criados fazendo essa tarefa, notou apenas que os olhos da princesa eram de um castanho tão magnifico que poderia muito bem ser uma das joias dos seus anéis. De repente, todos os assuntos que havia planejado, evaporaram da sua cabeça e quando seus olhares se cruzaram, o ar lhe faltou.

Houve um maneio de cabeça dela, um gesto nada mais do que respeitoso. O príncipe fez a mesma coisa, com um sorriso cometido.

E a partir disso, eles ficaram em silêncio, pois, se parasse para prestar atenção — e ele o fez — notou que era o único à mesa que não tinha alguém para conversar. Não iria dividir a atenção da princesa quando sabia que seu irmão e ela precisavam criar laços e os reis e rainhas estavam conversando animadamente — ou próximo disso — sobre seus reinos, sobre seus filhos, sobre seus tesouros. E Érico apenas observava tudo, com um fingido interesse. Havia um disfarce em seu rosto. Sorria para fingir estar prestando atenção e sorria mais ainda para ser gentil quando olhavam para ele. Em determinado momento seus olhos encontraram os de outra pessoa e, por um instante, Érico pode jurar que sentiu a mesma sensação que sentiu ao ver a princesa entrar.

Os olhos em questão são de um castanho mais escuro, determinados, ele poderia dizer. E estavam o encarando de volta, mesmo que tentasse fingir que não.

Olhar para alguém por tempo demais era falta de decoro, Érico lembrou-se disso, mas a informação logo foi jogada fora quando percebeu que o garoto que encarava estava tentando não sorrir. Um dos cantos da sua boca se repuxava para cima, e era como se ele repreendesse aquela ação em sua cabeça e o movimento parasse imediatamente, voltando a ser apenas mais um dos que acompanhava aquele jantar entediante. Involuntariamente, Érico percebeu que também sorriu em algum momento para ele. Quando percebeu, olhou para os demais presentes. Ninguém havia notado nele.

— Ah, que maravilha, os grãos de café têm chegado até vocês? — A rainha Tatiane estava animadíssima olhando para sua xicara de porcelana, que continha café. A fumaça chegava até suas narinas e ela inspirava com delicadeza, como se cheirasse uma flor. — Não recebemos o carregamento.

O pai de Érico sorriu, orgulhoso das suas próximas palavras.

— Na verdade, aderimos nós mesmos a cultivação de café. Passamos meses sem receber um único carregamento de Donvi, por isso decidimos agir.

O rei Alessandro estava impressionado e levemente inclinado a aderir à ideia para seu reino também.

— Ah, que maravilha, adoramos café. Em nossas manhãs, tomamos apenas chá.

— Não se compara — sua mãe disse, sorrindo como sempre, sendo sincera e mesmo assim, calorosa.

— Não mesmo — A rainha Tatiane concordou.

Coroa, Flechas e Correntes (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora