Só depois de ter feito a estupidez é que percebeu o quanto era estúpido. Seria um eufemismo dizer que seu corpo estava apenas tremendo ou que sua barriga estava apenas gelada; ele estava apavorado.
A rainha de Santina era, ao mesmo tempo, bela e feroz. Os olhos dela eram grandes e castanhos que pareciam dourados, mas Érico não ousava encará-la para ter certeza. E, de perto, ela era muito mais alta que ele e os guardas. Talvez fosse a mulher mais alta de todo o reino.
— Quem é você. — Uma ordem, nada tinha de questionamento.
Érico abriu a boca. Estava com discurso pronto desde a hora em que pisara na areia da praia para contar quem era e o porquê de estar ali, assim como estivera nos outros reinos. Quase pudera falar, mas sua voz já não lhe pertencia mais, ele se sentiu encolher e observar tudo por um vidro espesso demais para ser quebrado. Seu corpo não estava obedecendo seus comandos.
Ele ouviu sua própria voz dizer, em alto e bom som para que todos pudesse ouvir.
— Imploro seu perdão, majestade, eu agi por impulso. Não sabia que era um assassino que estava condenando.
— Decerto não imaginou que eu queimaria inocentes, achou? — Era uma pergunta que não devia ser respondida, e, de alguma forma, ele sabia, mas não conseguia expressar isso.
Sua voz continuou a ser inabalável.
— Não, claro que não. Eu... Eu sou Érico II, príncipe de Hend em Valência.
As pessoas ao redor arquejaram quando seu título foi proferido. Seu peito estufou apesar de ele não sentir orgulho nenhum. Seu desejo era olhar para trás, para saber onde estavam seus amigos e seus companheiros, mas seu corpo se recusava a obedecer, tudo o que ainda lhe restava eram os pensamentos, que mesmo assim pareciam vir carregados por uma nuvem densa de fumaça como a da pira, impedindo o raciocínio até pelas coisas mais simples. Ele estava com sono e uma vozinha dentro dele, que assomava aa maior parte de tudo o que pensava, estava pedindo que ele dormisse.
Érico se entregou àquela voz e dormiu.
