Capítulo Cinquenta e Três

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Foi como emergir de um lago escuro e gélido, que tinha congelado o sangue me suas veias, que tinha feito suas pálpebras ficarem pesadas e o peso enquanto nadava, tentando chegar a superfície, o deixava com vontade de se entregar de novo a inconsciência. Era um mar escuro e silencioso à primeira vista, quando parou para saber o que sentir, percebeu que havia barulhos à distância, quase como se monstros, todos aqueles que ele já vira ou ouvira falar: ouvia a risada sinistra da bruxa que lhe ofereceu mais um pedaço de torta, ouvira o rosnar do lobisomem quando fio derrubado por ele, escutava também o sibilar da cobra de fogo se arrastando pelo seu corpo.

Érico nadou para longe daqueles sons difusos, querendo ao máximo escapar de onde estava, mesmo que não soubesse exatamente onde se encontrava.

Só sabia que não queria continuar perto daqueles sons, sentindo como se fosse puxado em direção a eles, como se não pudesse evitar.

O mar escuro não o impedia de respirar, e mesmo assim, sua respiração era pesada, exigia o dobro da força necessária. Ao olhar para os lados, desejou desesperadamente encontrar seus companheiros. Mas só havia escuridão imensa e o barulho do mar, mesmo que ele não sentisse a água em sua pele.

Fechou os olhos de repente; abriu a boca e gritou.

Seu grito era apenas nada. Sem som. Sem força. Sua boca permaneceu aberta por um momento a mais, até que ele desistiu. Ninguém o escutaria.

Por alguma razão continuava nadando. Ele continuava escutando os grunhidos dos monstros, que pareciam estar nos seus ombros. Ele ouvia

Filho da realeza

vozes, altas, claras, monstruosas. E seu corpo todo encolhia de medo. Estava nadando em um mar de medo onde não havia nada que pudesse salvá-lo. Nem ninguém. Sempre que as vozes se calavam, o espaço vazio ao seu redor tremia e elas recomeçavam.

Príncipe

Juramento... Fogo.... Guerra.

Filho da realeza...

Seu dedo anelar deve ser cortado...

Salve-se...

*

Não sabia ao certo quando começou a chorar, mas sabia que se não parasse, acabaria se afogando nas próprias lágrimas. Engasgava-se de repente e precisava fazer força para recobrar o ar para os pulmões. Ele estava com medo, e era um medo tão imenso que parecia sua primeira vez o sentindo, um sentimento novo, mais forte, que o transbordava e o fazia tremer. Não bastava desejar que tudo acabasse, Érico sabia que não acabaria, o medo o havia enrolado em sua manta, o trazido para o seu começo e o seu fim, que se misturavam em um mar infinito onde tudo o que sentia era o gosto metálico na boca e seus membros dormentes.

Há quanto tempo ele parecia estar ali? Parecia uma eternidade dolorosa.

Havia desistido de se mover, mas não de gritar. Parecia, surpreendentemente, muita força em si para conseguir gritar, pensar e chorar.

Os sons recomeçaram, mais próximos.

— Calados — murmurava, tampando os ouvidos com as mãos, com força, como se quisesse quebrar o próprio crânio. — Calados! Calem a boca! Vão embora! Saiam daqui! Me deixem em paz!

Ele gritou por mais uma eternidade.

A luz era cegante. Estava à mesa, sentindo todo o seu corpo ser tomado pelo calor de uma lareira acesa e tendo o peso dos olhares de todos para si. Érico piscou, se adaptando ao que via e sendo arrebatado por detalhes que não conhecia.

— Onde estamos? — Sua voz estava rouca. Até mesmo engolir em seco era difícil, sua garganta estava arranhada.

As lembranças do mar escuro e cheio de vozes o preencheu. Ele ficou estático, sentindo a ponta do seu cabelo tocando seu nariz, sentindo os lábios secos e rachados um contra o outro.

Coroa, Flechas e Correntes (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora