Capítulo 21 & Mãe?*

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Truta

Terça é aquele dia de pagar geral das bocas, de cobrar os filhas da puta e de nunca dá certo essas parada sempre tem alguma coisa. Ainda mais esse zé ruela que não faz porra nenhuma certa.

Truta: Se liga caralho, é só pegar essa porra desse dinheiro e entregar, é difícil? _Falo pro Dadinho._ Mermão, se tu não entregar o restante do dinheiro que falta do asfalto, tu sai daqui sem cabeça, deu pra entender?

Dadinho: Já entendi pai, foi só hoje juro pra tu memo amanhã ta aqui na suas mãos, jaé? _Cruzo os braços._

Truta: Quero essa parada hoje a noite, da seu jeito irmão. _Bato no ombro dele e saiu da boca._

Pego meu celular, respondo uma mina ai que to de ideia aqui do morro memo, já joguei a real, só uma transa e vai embora. Subo na minha moto, coloco minha camisa e desço o morro.

Truta: Ai magrinho. _Grito ele e paro a moto um pouco afastado._

Magrinho: E ai pai, suave? _Faz um toque comigo e entrego o dinheiro._ Porra, valeu. 

Truta: Tranquilo. _Olho envolta._ Vou resolver um bagulho de família, só me aciona se essa porra tiver pegando fogo, vou nem levar arma, fica esperto no radinho, demorô?

Magrinho: Pode pá, fé pra tu. _Assenti._

Coloquei meu capacete, e sai do morro. As vezes ter esses acessos livres pro asfalto é bom demais. Vou até a clínica aonde minha mãe está, que é uma viagem da porra.

Chegou na mesma e estou rezando pra que não acontece as mesma coisa de sempre: uma mulher branca de olhos claros, atentando sem educação um negro tatuado. Isso é foda, uma coisa péssima de se vim no asfalto, esse povo retardado.

Xxx: Olá, boa tarde, no que posso ajudar? _Fala sorrindo, hum, ta estranho._

Truta: Vim visitar minha mãe. _Ela concorda com a cabeça, vira com  a cadeira e pega algo atrás dela._

Xxx: Por favor, só preencher esse papel e me falar o nome da paciente. _Pego uma prancheta e caneta._

Truta: Marta Evans. _Começo preenchendo aquilo tudo, só faltou perguntar o que eu comi no almoço._ 

Xxx: Bom, só esperar um pouco que vão vim chamar vocês. _Assenti e vou até minha irmã que estava fazendo alguma coisa no tablet da faculdade._ E ai, maluca. _Beijo sua testa e sento do seu lado._ 

Alma: Achei que fosse demorar. _Desliga o tablet._

Truta: Só resolvi umas parada e vim, deixei pros bunda mole terminar. _Pego meu celular no bolso._ Viu ela?

Alma: Não, quero entrar com você tem problema? _Neguei._

Truta: Quem trouxe você? _Ela engole seco._

Alma: A Laura. _Semicerro os olhos._ 

Ricardo: E ai Willian, tudo bem? _Sorte dela, me levanto e aperto sua mão._ 

Conversamos um pouco sobre minha mãe, disse toda a evolução dela e real, fiquei mó felizão, sabia que minha coroa ia sair dessa e conseguir uma condição de vida melhor sem as crises que ela tinha. 

Ricardo: Bom, ela está ali. Fiquem a vontade e o tempo que precisarem.

Alma: Obrigada. _Ele assentiu e saiu._

De todos esses anos que eu ia visitar minha mãe, nunca vi ela dessa forma. Estava comendo, toda arrumada, cabelo arrumada e ainda por cima usando a aliança de casamento. Naquele lugar não podia ter nada, apena um livro e olhe lá.

Sorrio pra Alma e seguro sua mão, vamos caminhando até minha mãe que nem percebeu nossa presença.

Truta: Mãe? _Ela olha pra frente, e depois de um tempo vir pra nós toda feliz._ 

Marta: Meu Deus, é tão bom ver vocês. _Levanta e abraça nós ao mesmo tempo._

Ficamos assim uns longos minutos abraçados, eu tava com toda saudade de ver ela assim, toda felizona e esse perfume de flores que só ela tem. 

Marta: Minha filha, como você cresceu, tá a coisa mais linda, fui eu que fiz. _Fala rindo e segura o rosto da Alma._ Tava morrendo de saudade. _Beija a bochecha dela._

Marta: E você meu filho. _Seguro meu rosto._ Tão lindo, cheio de tatuagens, cara de homem. _Me olha todo._ Vem, sentem aqui.

Sentamos na mesa que tinha ali, eu e Alma sentamos na sua frente e ela ali na frente olhando a gente igual boba.

Alma: Como a senhora ta?

Marta: Estou muito bem minha filha, aqui é muito bom e as pessoas mais ainda. _Fala animada._ Única coisa que não posso cozinhar, aqui eles não deixam a gente mexer com essas coisas. _Fala tristinha._

Truta: Daqui a pouco a senhora está em casa e pode fazer tudo que tiver vontade. _Ela não parava de sorrir._ E seus remédios?

Marta: Tomo um de manhã que me deixa muito bem, e dois a noite que me deixa meio sonolenta e esquecida, mas acordo novinha no outro dia. _Suspira._ Fazia tanto tempo que eu não ficava assim, feliz e consciente.

Alma: E suas crises, passaram?

Marta: Sim, tinha isso todos os dias quando estava naquele inferno que vocês chamavam de clínica. _Fala debochada._ Aqui ainda escuto umas vozes, mas a doutora falou que é até eu me adaptar.

Alma: Fico feliz, você deveria ter agradecido a Laura, ela quem conseguiu essa vaga pra você. _Os olhos da minha mãe brilham._

Olho sem entender, achei que a Laura só tinha deixado ela aqui e vazou, mais pelo jeito não. 

Faz mó cota que não vejo a coroa assim, conversando, com esses brilhos nos olhos, sorrindo e sem ter vozes e essas parada atrapalhando ela.

Marta: A Laura é incrível, conversei bastante com ela, não sabia que conheciam ela.

Truta: Ela é professora da Alma e mora no morro agora.

Marta: Ai que bom, fico feliz com isso. Semana que vem ela vai voltar aqui pra me ver, fazer as unhas e cabelos. _Acabo sorrindo._

Era isso que eu queria, ver minha coroa tranquila, sem preocupação nenhuma. Eu to feliz demais mermão, não vejo a hora de levar ela embora e ver ela todos os dias, poder abraçar e tudo mais.

Ficamos mais de uma hora ali trocando ideias, claro que muita coisas ela nem lembrava por estar bem dopada de remédios, mas sabia muitas coisa do morro que nem eu sabia.

MARATONA ON 3/6

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