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- Fazem cinco dias sem vocês, mas já me parecem cinco semanas. - Falo me levantando de um dos túmulos. - Eu me sinto tão vazia sem você, mãe. - Suspiro olhando a pequena foto. - Sabia que a Priscilla disse que está apaixonada por mim? Você acertou naquele dia. - Faço desenhos aleatórios na lápide.

Fico um pouco ali, aproveitando do silêncio e relembrando mais alguns momentos. Logo me despeço deles e procuro pela lápide da Alex.

- Boa tarde, enfermeira Vause. - Me aproximo observando sua foto sorridente e sorrio também. - É uma pena que o mundo esteja privado da sua beleza.

Sento encostada na árvore logo ao lado da sua lápide.

- Senti sua falta. Tem tanta coisa acontecendo. Me sinto tão sozinha agora que minha família está com você. - Encosto a cabeça no tronco, ficando com uma visão do céu. - Você gosta daí? Você deve estar feliz, não é? Sua namorada também está aí.

Deixo que algumas lágrimas escapem.

- Nada parece ser suficiente agora, nem mesmo saber que a Priscilla sente o mesmo por mim. É, ela me confessou. Eu me senti feliz no momento e agora tanto faz, sabe? Será se um dia esse vazio me deixa em paz? - Senti um vento frio bagunçar meus cabelos. - Será se você pode me ver e me ouvir? Gostaria que você estivesse aqui, e eu pudesse te ver...

Dou um sorriso em meio aos meus desvaneios.

- Estava pensando, gostaria de ser uma esquizofrênica, uma doida, uma espírita, sei lá, algo que me fizesse te ver e conversar com você, ou as outras pessoas que eu amo. - Enxugo umas lágrimas. - Eu sei que com essa você riu e me chamou de maluca. - Sorri minimamente. - Se eu me descuidasse, você iria puxar meu pé à noite? Só assim pra mim te ver. Não, espera... - Relutei um pouco. - E se eu me matasse, Alex?

Obtive o silêncio como resposta, e que profundo silêncio.

- As coisas já não fazem mais tanto sentido. Meus amigos não precisam perder tempo se preocupando comigo, eu me sinto como a parte ruim da vida deles. E eu não quero ser um peso. - Arranquei a grama e soltei. - E meus pais, a Emily, eles não estão mais comigo.

Espatifei as folhas secas ao meu redor.

- Por que continuar aqui? Eu nem sei se eu tenho algum futuro. Eu nem penso nisso, mas eu já deveria ter pensado sobre meu futuro. Que futuro eu tenho?

Levantei e me deitei sobre o túmulo de Alex.

- Uma garota de 17 anos que perdeu os pais, não tem sequer uma tia, uma avó, um parente qualquer. Sozinha na vida. - Cobri os olhos com meu braço. - Ainda no ensino médio e desempregada. Que futuro tem essa garota?

Nenhum. Me respondo.

- Peço desculpas pra você, eu sei que não iria querer isso pra mim, mas... eu não sei se eu consigo lidar com tudo isso.

- Ei, garota, não pode deitar aí! - Ouvi gritos ao longe e me levantei depressa.

- Foi mal! - Falei assim que avistei um coveiro.

Ele deu um aceno de cabeça e saiu.

- Acho melhor eu ir, Alex. Se eu fizer alguma besteira, por favor, me entenda e me perdoe. Te amo. - Olhei sua foto uma última vez e saí limpando as lágrimas que eu nem havia notado ainda.

...

1, 2, 3, 4... 10 batidas na porta.

A escuridão engolindo a casa enquanto os últimos raios solares se perdiam no horizonte.

Um xingamento ouvido ao longe e um carro saindo dali.

Priscilla.

Lá estava eu me sabotando, após ter ouvido tudo o que eu mais almejava vindo da mulher.

Beautiful StrangerOnde histórias criam vida. Descubra agora