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O olhar de Priscilla em mim, enquanto comemos pizza, está me intrigando. Eu finjo que estou distraída apreciando a pizza, mas dá vontade de perguntar o que ela tanto olha.

Certo.

- O que foi? - Perguntei apoiando o rosto na mão, enquanto meu cotovelo estava na mesa.

Ela se inclinou sobre a mesa e passou o polegar delicadamente sobre o canto da minha boca e depois em meu queixo.

- Então está se divertindo às minhas custas? Tão lindo pra sua cara.

- Ei, nada disso, você se mela todinha comendo e eu tenho que olhar até onde você consegue se melar. - Se arrumou na cadeira novamente. - Vai que entra pros recordes.

- Muito engraçado. - Murmurei me levantando e levando o que eu havia sujado comigo.

- Já encheu, bebê? - A ouvi perguntar.

- Não sou bebê, e tô satisfeita, sem recordes batidos, Pugliese. - A ouvi murmurar em resposta.

Lavei a louça e fui pro meu quarto, tomei um banho bom e vesti um blusão, logo indo pra sala, sem sinais da Priscilla.

Alguns minutos olhando pro teto e subi as escadas pro meu quarto novamente. O lema é dormir antes que o vazio me atinja.

- Booh!

- Jesus! - Soltei um gritinho pelo susto junto ao puxão repentino em minha cintura. - Priscilla, sua maluca!

Ela riu me abraçando a cintura, de frente pra mim.

- Desculpa. - Pediu afastando o rosto pra me olhar.

- Tá bom. Eu-

Minha voz se perdeu na boca quente junto à minha, esvaindo quaisquer forças para reagir contra a pegada em minha nuca e o corpo quente colado no meu.

Correspondi, de imediato, quase que suspirando com o toque tão familiar, que há tempos não sentia.

Arfei com o aperto do seu braço enlaçado em minha cintura e o deslizar de sua língua sobre a minha. Um flash de realidade me atingiu e eu cortei o beijo.

- Calma. O que você... - Gaguejei me perdendo em minha própria linha de raciocínio.

A empurrei entrando, por fim, no quarto e trancando a porta, me permitindo deslizar contra ela até me sentar no chão.

Passei os dedos por meus lábios, ainda conseguindo sentir a pressão daquele beijo. Foi tão bom e tão aleatório. E por quê?

- Natalie? - Um murmuro do outro lado da porta me deu um frio na barriga. - Vamos conversar, por favor.

- Não. Eu... eu não preciso das suas desculpas, ou... sei lá. - Soltei o ar pela boca. - De novo não. - Murmurei fechando os olhos na tentativa que meu coração desacelerasse e meu estômago parasse de revirar.

A sensação familiar de sentimento não correspondido, e de ser vista como mera atração, encheram meus olhos de lágrimas.

- Eu não quero pedir desculpas, eu não tô arrependida. Eu quem te beijei e-

- Como você pôde? A última coisa que eu quero agora é ser seu passatempo. Eu pensei que você ao menos me considerasse sua amiga, Priscilla. Mas amigos não fodem com os sentimentos dos outros. - Desabei a chorar abraçando minhas pernas. - Vai embora!

- Eu não vou a lugar nenhum, Natalie. Não quero mais ser uma covarde. - Meu estômago embrulhou. - Abre. Por favor.

Neguei com a cabeça. Como se ela pudesse ver. Não falei mais nada e também não ouvi mais nada. Chorei mais um pouco, perdida nos meus próprios enredos. Sou tão nova e minha vida já está virada ao avesso, não consigo imaginar nem como estarei daqui uns anos.

Beautiful StrangerOnde histórias criam vida. Descubra agora