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Acordei sob a vista da garota de olhos verdes que segurava um aparelho de medir pressão.

- Foi só uma queda de pressão. - A ouvi falar.

- Graças a Deus você chegou, Lauren. Eu já estava quase ligando para uma ambulância. - Sinuhe disse.

Fechei os olhos novamente e apaguei.

Despertei no meu quarto, logo com meu estômago roncando. Eu estava com muita fome. Fui ao banheiro e escovei os dentes rápido para então ir até a cozinha.

- Está se sentindo melhor, Natalie? - Camila perguntou quando passei pela sala e concordei com a cabeça.

Estavam todos ali no sofá assistindo algo.

Peguei um prato e uma colher, então me servi de frango com catupiry, arroz salada e farofa. E seja lá quem fez, mandou bem demais! Amo catupiry.

- A gente pode conversar, Natalie?

- Pode falar, Alejandro. - Respondi mais preocupada em comer.

- Eu acredito que te devo desculpas por fazer um exame de DNA sem o seu consentimento. - Balancei a cabeça. - É que Sinuhe e Camila não queriam te dar falsas esperanças, no caso de eu estar enganado.

- Como... que isso tudo aconteceu? Não entendo.

Ele suspirou sentando na cadeira à minha frente.

- Uma coisa foi puxando a outra. Tudo começou quando vi que você lembrava a Camila, até nas suas fotos em família que você têm na sala e para ajudar eu tinha a impressão de conhecer sua mãe. - Falou. - Então fomos no cemitério com você e quando eu li aquele nome na lápide, eu lembrei dela. E eu andei uns dias pensativo sobre isso, com aquela intuição gritando que havia algo. Mas quais seriam as chances?

Fiquei calada. Lembrei de quando vi o pai de Camila divagando algumas vezes na própria bolha.

- Eu conversei com Sinu sobre isso tudo, ela achou que eu estava me confundindo. Mas quando eu falei detalhadamente do que aconteceu entre mim e sua mãe, ela pôs um pouco de fé.

- E o que aconteceu? Minha mãe nunca me falou sobre eu ter outro pai.

- Nós nos conhecemos no Brasil. Ambos acabamos nos encontrando, ambos estávamos de passagem. Ela havia ido visitar umas tias e eu estava numa viagem de negócios, foi bem nesse período que eu e Sinuhe nos separamos, a Camila devia ter uns 3 aninhos. Estava acontecendo tanta coisa e eu só precisava respirar, então aceitei ir nessa viagem.

"Nos conhecemos em um festival na praia e desde então nos envolvemos. Foram 3 semanas que eu passei no Brasil. Nós continuamos mantendo contato depois disso, tínhamos química mais era apenas isso, eu ainda amava a mãe da Camila. Até que com bem uns 2 meses desse primeiro encontro do Brasil, a Deborah assumiu um homem nas redes sociais e eu confesso que fiquei bem surpreso, ainda flertavamos.

E com isso eu resolvi reatar com Sinuhe, Deborah era a única coisa que me impedia de voltar com o meu casamento, mas ela nunca soube disso.

E poucos dias depois a Deborah assumiu uma gravidez, mas a conta não batia, sabe? Porque como ele poderia ser o pai se ela passou 1 mês no Brasil e ele era do Indefinido? Ela só o assumiu 1 mês depois de voltar do Brasil. E os sintomas da gravidez não aparecem num sopro.

Eu tentei conversar com ela, perguntar se eu era o pai e ela me negou todas as vezes, disse que estava grávida antes de me conhecer. Falou que ela e o atual namorado se conheciam muito antes de mim.

E isso me convenceu, Natalie.

Ficamos distantes, vez ou outra eu via algo em sua rede social. Até que você nasceu. A coisa mais adorável! Me lembrou tanto a minha Camila; a pele bronzeada, os olhinhos castanhos amendoados e o nariz era só um pontinho.

E quando você fez 2 aninhos estava mais aparente seus traços latinos, havia puxado para mim. Não tinha nada a ver com o namorado da sua mãe.

Eu voltei a falar com a sua mãe, ela me disse para eu esquecer, que eu estava maluco, ela foi bem rude nessa parte. E a partir daí ela me excluiu nas redes sociais e perdemos contato. Com o tempo eu acabei esquecendo dessa situação."

- Nossa! - Foi tudo que eu consegui falar em resposta.

- Eu e você nunca iremos saber o lado dela da história. O meu palpite de longe é que ela preferiu esconder isso porque eu era casado e tinha uma filha pequena.

- Em partes isso pode ter interferido. Realmente não dá pra saber ao certo... - Concordei pensando em mil coisas.

- Enfim. Eu estou realmente muito feliz que o futuro me trouxe até você. Eu vou dar o melhor de mim à você, como eu sempre dei às minhas outras duas filhas. E eu sinto muito que a sua mãe não esteja mais aqui. - Ele falou apertando minha mão por cima da mesa.

- Eu não sei o que dizer. Mas isso deve ser bom. - Falei sentindo os meus olhos marejarem e logo as lágrimas escorreram.

O choro veio fortemente. Assim sem delongas, apenas veio.

Sentia falta da minha mãe, muita, e da Emily também. Mas quem eu aprendi chamar de pai eu não sentia falta.

Agora tudo fazia sentindo!

Ele sempre soube que eu não era sua filha.
A maneira como ele me tratava era tão distante, mas com Emily ele era um doce. Ele não me amava, ele me aturava pela minha mãe. E poxa, por que ele não se apegou à mim? Eu nem havia saído da barriga da minha mãe quando ele a conheceu, ele poderia sim ter sido melhor.

Isso me fez chorar mais ainda, agora com as duas mãos no rosto.

Estava ressentida com o "meu pai" e jamais com raiva da minha mãe, eu não sei seus motivos, mas acredito que talvez não iria ter feito uma diferença tão grande se ela tivesse me contado, se ela tivesse contado ao meu pai de verdade.

Senti Alejandro afagar meus ombros e beijar o topo da minha cabeça.

Eu tenho um pai e duas meia-irmãs. Tentei parar de chorar e limpei as lágrimas do meu rosto. Mas não pude impedir as lágrimas de caírem quando vi Camila entrando na cozinha.

Ela me puxou pra si, fazendo com que eu me levantasse e me abraçou apertado.

- Você não sabe o quanto me faz feliz que você seja minha irmã, Nath. - Ela falou baixinho. - Desculpa sair correndo mais cedo, meu pai queria contar isso e eu quase estraguei.

- Está tudo bem, Camz.

Ela fastou seu rosto de mim e limpou minhas lágrimas, ficou me olhando sorrindo largo. Era confortante ver Camila genuinamente feliz.

- Eu amo você! - Acabamos falando juntas e rimos.

Aquela foi uma tarde muito agradável.

Me confortou que Sinu não mudou comigo por esse detalhe. E fiquei feliz que foi muito fácil de Sophie entender que eu era sua irmã.

...

E mais uma vez Camila queria ir á algum clube. Camila amava dançar. E cá estava ela às 8 da noite insistindo para que eu fosse.

- Camz, você viu o que deu ontem. - Eu tentava fazê-la desistir.

- É outro clube, não é possível que a Priscilla leve a ficante dela de novo. Aliás eu nem sei se ela ainda vai continuar com essa mulher depois do que rolou.

- Camila...

- Dessa vez o Tyrone e o Shawn vão!

Fiz uma careta.

- Quem mais?

- A Bárbara vai tocar esta noite. - Suspirei ao ouvir isso.

Ainda não estou pronta para lidar com essa situação.

- Você pode conversar com a Priscilla antes de beber todas.

- A última vez que eu irei, Camila. Quero passar um tempo longe de festas.

A latina deu gritinhos pulando e comemorando com as mãos.

Dessa vez eu coloquei um tênis branco, uma calça preta rasgada e um cropped vermelho sem manga. Fiz um rabo de cavalo também.

Num piscar de olhos nós estávamos parando para pegar Priscilla e para a surpresa de todas no carro, Priscilla estava ao lado de Rebecca.

- Puta merda, amor. - Lauren resmungou.

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