Beautiful Stranger

14

- Bom dia, senhorita Kordei. - Lucy disse apertando a mão da professora quando ela saiu de sua sala. - Perdão interromper sua aula, mas estes alunos tiveram um emprevisto no caminho e eu dei uma carona à eles. Será que eles podem entrar?

- Oh, claro. - Falou dando espaço para que eu, Rodrigo e Veronica passassemos.

- Obrigada. - Escutei Lucy dizer.

Havíamos chegado 30 fucking minutos atrasados, por acordarmos na hora em que as aulas começaram. Mas, por sorte, Lucy disse que daria uma conversada na professora que estaria dando aula no primeiro tempo. E que bom que ela deu.

Como o horário estava quase acabando, eu mal vi aquela aula passar. Ao restante das aulas também não prestei atenção, não tirava da minha mente os flashes da noite com a Priscilla, especificamente aquele último beijo. Foi tão... suave.

- Vamos comer, levanta daí! - Veronica disse me puxando.

- Agressiva. - Resmunguei.

Pegamos algumas besteiras na cantina e nos sentamos em uma mesa mais afastada, logo Ally nos avistou e veio sentar com a gente.

- Eu tô com uma dor de cabeça. - A baixinha reclamou.

- Acredito. - Falei de boca cheia. - Come que melhora. - Dei um sanduíche a ela que agradeceu.

- Está faminta ao ponto de falar de boca cheia? - Rodrigo indagou.

- Você nem sabe como a noite foi difícil pra ela, tadinha. - Vero disse e dei o dedo do meio a ela. - Esgotou as energias.

- Opa, conta aí pra gente. - Ally disse se debruçando na mesa.

- Parem de ser curiosos.

- Ou você conta, ou nós aperriamos a Priscilla. - Veronica sorriu sacana. - Ah, olha ela ali! Pris-

Tampei a boca de Veronica e bufei.

- A gente fodeu. - Disse evitando olhar para eles, a vergonha era inevitável quando se tratava de Priscilla. - Satisfeitos?

- Eu sabia, porra! - Veronica gritou sendo seguida por mais gritos de comemoração da Ally e do Rodrigo.

- Gritem mais alto, lá de casa não deve ter dado de ouvir direito. - Reclamei revirando os olhos.

- Oi. - Ouvi a voz conhecida atrás de mim e meu coração acelerou, como sempre. - Qual o motivo dos gritos? Me deixem por dentro. - A senti sentar ao meu lado.

- Você e Natalie, você sabe... - Rodrigo disse malicioso.

- Sei? - Ela juntou as sobrancelhas.

- Não vem bancar a sonsa, Priscillão. - Ally disse rindo.

- Priscillão? - Priscilla disse confusa.

- Ah, chega né? Não sabia que os beijos e chás da Natalie tinham o poder de lerdeza em você não. - Veronica disse saindo pra ir jogar nossos lixos fora.

Olhei para Priscilla, que estava me olhando de sobrancelha franzida.

- Eu te beijei? - Ela sussurrou.

Foi um soco no meu estômago. Ela não lembrava? Merda!

Desviei meu olhar do seu e suspirei. Ótimo! Nota mental: não deixar que isso aconteça de novo.

- Então, nos conte como Natalie é na cama. - Rodrigo disse cruzando os braços sobre a mesa e apoiando seu queixo neles.

- Eu não lembro de nada disso. Dormi, acordei sozinha e foi só. - Ela disse, porém fez uma cara de pensativa.

- Tá de sacanagem? - Veronica perguntou sentando ao lado de Priscilla.

- Veronica, ela exagerou na bebida e com certeza dormiu sem roupa comigo por nenhum motivo. Eu vou ao banheiro. - Falei antes que eles continuassem a conversa e saí dando passos largos até onde eu e Rodrigo vinhamos, vez ou outra.

É muito legal uma pessoa foder com você, insistir pra isso, falar que te quer, pedir a merda de um beijo, fazer tantas outras coisas e não lembrar no dia seguinte. O mais legal ainda quando é alguém que você está caído por. Por que eu tô ligando pra isso?

Eu não deveria ter dado brecha. Eu não deveria ter nem me apaixonado. Como eu sou tão idiota de me apaixonar assim? Chutei as folhas secas e me sentei.

Okay, Natalie, é só você não dormir mais na casa do Rodrigo. Você sabe que tem um ímã para amizades coloridas e ela deve ser só mais uma, sem tempestades em um copo d'água. Lembre que ela disse que seria só uma noite e não precisariam conversar no outro dia.

Me consolei e deixei uma lágrima rolar, mas logo a enxuguei. Eu queria tanto que tivesse sido mais que uma foda pra ela.

...

- Sim, ela não lembra de merda alguma. - Grunhi para Bárbara que estava do outro lado da linha, estávamos numa vídeo chamada.

- Poxa, Natalie. Mas e se ela quiser se lembrar?

- Tipo quiser me beijar de novo?

- Uhum...

- Depende. Se ela me jogar corda outra vez, e ainda por cima com uma gota sequer de álcool, eu fujo de todo jeito. - Suspirei. - Se ela quiser ao menos ficar comigo, ela venha atrás sóbria.

- Sóbria deu mole é vapo?

- É. - Ri. - Tenho problema em ela não lembrar no outro dia, ter uma amizade colorida com ela nem é um problema... eu acho.

- E quanto à você estar gostando dela? Vai ser suficiente ser apenas a amiga colorida dela até que ela arranje um namorado, ou namorada, e fim?

- Sim? Acho que sim. Vai que essa "paixão" é só algo momentâneo, eu me apaixonei tão rápido, na verdade sempre me apaixono rápido... - Suspirei. - E dizem que o que vem fácil, vai fácil, e realmente. Mas com ela, com ela parece que vai levar um tempo.

Continuei conversando com Bárbara e convencendo à mim mesma que isso pela Priscilla era fogo de palha.

- Nath? - Bárbara chamou após um tempinho nosso só nos olhando.

- Toda ouvidos para a minha Dj predileta. - Respondi vendo ela sorrir minimamente.

Logo seus olhos encherem d'água e as lágrimas começaram a molhar seu rosto. Quando eu iria perguntar o que havia acontecido ela abriu a boca.

- A Gaby tá namorando com o Kevinho. - Tentou enxugar as lágrimas que vinheram com mais frequência ainda. - Eu estava gostando dela, por-por que ela não disse que es-estava se apegando à outra pessoa?

Meus olhos marejaram. Eu queria poder abraçar a garota à minha frente e deixar que ela chorasse em meu colo, queria estar perto.

- Eu aposto que ela apenas esperou que a mídia me jogasse nos braços de alguém pra assumir aquele escroto do caralho. - Fungou. - Lembro que falei que provavelmente ela não voltaria, mas ainda havia esperança. Droga!

- Ela não te merecia, meu bem. Eu juro que você vai encontrar alguém que nunca te deixe ir, uhm? Você é incrível e merece mais do que ela possa oferecer. Ela não é pra você e tá tudo bem. - Falei vendo seus olhos azuis encarando um ponto qualquer e um bico em seus lábios. - Por que não vem me visitar? Aposto que está morrendo de saudades de mim.

Ela sorriu e começou a enxugar as lágrimas.

- Eu aposto que quem tá com saudades é você, convencida.

Fiz Bárbara rir algumas vezes. Eu iria ajudá-la a se distrair e continuar seguindo em frente, mesmo que ela não me pedisse essa ajuda.

Ser um anjo na vida dela não seria um incômodo.