Prólogo

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As noites no Bitch Love eram regadas por três coisas: músicas, bebidas e muita luxuria. No dinheiro, nas vestimentas, nas danças, nas mobílias, nas pessoas, tudo naquele lugar era embebedado desse grande pecado e Akemi não era diferente.


A mulher usava um body preto com pequenas tiras que se prendiam em seu corpo junto de uma saia tule de renda tão curto que quase não escondia as curvas de sua bunda. Ela dançava sobre o palco, a maquiagem brilhando diante dos holofotes que a moldurava diante dos olhos predatórios, os passos leves em cada movimento antes de se aproximar do pole dance.


A música tinha uma batida que a envolvia enquanto se entregava a ela de corpo e alma, naquele momento Akemi se negava a pensar em qualquer outra coisa e fingia estar sozinha, sem olhares de luxuria sobre seu corpo, sem o cansaço de sua vida dupla, apenas ela e somente ela.


Akemi odiava seu emprego, mas ele pagava muito bem...




Eram sete da manhã quando a mulher abriu a porta dos fundos do clube noturno, vestindo roupas simples e que tentavam esconder seu corpo farto ao máximo que podia, jamais alguém pensaria que aquela dedicada estudante trabalhava em uma das ruas de prostituição mais conhecidas de Shibuya.


Apressada, Akemi praticamente corria em meio ao amontoado de pessoas sem prestar muita atenção, ela estava atrasada para mais um dia de prova de conclusão de semestre de sua faculdade.


Em mãos seu caderno, na bolsa suas vestimentas de trabalho muito bem embaladas e escondidas no fundo abaixo de uma blusa de tricô bege. O olhar sempre baixo e pensativo, agora sem a maquiagem que valorizava seus predatórios olhos com heterocromia — a íris verde escondida por uma lente de cor preta.


Com ajuda do trem, não demorou para que Akemi estivesse em frente da sala de aula esperando apenas o professor chegar para terminar as provas. Colocando o caderno sobre a mesa, releu tudo que havia estudado no dia anterior se focando nas anotações antes que o sinal tocasse.


Akemi era dedicada nos estudos, a faculdade era de enfermagem — valor dentro de seu orçamento— mas as notas facilmente batendo as de um excelente aluno de medicina. A mulher era dedicada, estudiosa e se esforçava ao máximo, tudo por seu pequeno irmão mais novo.





Quando as provas acabaram, Akemi decidiu almoçar em algum restaurante próximo antes de ir para casa. Caminhando sem pressa para o pequeno lugar, se acomodou em uma mesa mais afastada e vasculhou os preços com um olhar rápido antes de pegar o prato mais barato oferecido pelo estabelecimento.


Sem demoras, deixou seu caderno aberto sobre a mesa fazendo novas anotações, a próxima prova era de uma matéria que Akemi tinha de confessar não ter muito carinho. Sua caneta deslizava pela folha em foco, não parando para encarar quem entrava ou saia, nem os garçons, não até que o prato foi posto próximo de seu caderno pela simpática atendente.


— Você é estudante de medicina?— A mulher questionou curiosa, os olhos bem focados na folha de caderno de Akemi cheia de rabiscos sobre remédios— Oh perdão pela pergunta.


—Não, tudo bem— Forçou um sorriso enquanto fechava seu caderno para agora poder comer— Enfermagem. Posso saber o motivo da pergunta?


—Eu reconheci o nome que colocou no título com algo que outro cliente estava lendo— Ela disse pensativa sem desviar os olhos de Akemi— Pelo restaurante ser perto da faculdade vem com frequência estudantes de vários cursos... Temos até alguns de medicina que... Ah falando nele, com licença.


Sem terminar a fala ela se afastou para ir atender um jovem que havia passado pela porta do restaurante. Não que a dançarina tivesse interesse ou algo semelhante, mas seus olhos foram em direção ao homem que talvez estivesse se referindo? Não que a atendente tenha terminado a frase, mas quem sabe esse fosse um dos estudantes de medicina?


Akemi apenas ficou curiosa com uma coisa naquela figura que se sentava: ele tinha o cabelo descolorido.





—Irmão?— Quando o celular tocou, a mulher não demorou para ver quem era e quando em sua tela mostrou o nome de seu amado irmão, logo atendeu. Ela se sentia um pouco culpada e até com medo já que passou horas a mais do que o comum fora de casa— Aconteceu alguma coisa?


—Onde você está, irmã?— A fraca voz disse, um pouco sonolenta— Meus remédios acabaram.


— Eu estou...— Olhando para os grandes prédios, pescou o nome de alguma farmácia— Estou em shibuya, logo chego em casa. Qual remédio acabou? Para dor?


— Isso, da embalagem verde claro— O conhecimento do menino era pouco, mas ele sabia que sua irmã entenderia o que ele estava querendo dizer.


— Certo, já compro e vou para casa— A sorte da mulher era sempre levar consigo as receitas para pegar uma nova caixa assim que acabava— Logo estou indo... Fogos de artifício?


— Fogos de artifício?


— Sim, eu vou gravar e já te mando— Sabendo do animo que seu pequeno irmão tinha por essas barulhentas e coloridas explosões de luz, ela rapidamente desligou a ligação para quem sabe conseguir um rápido vídeo deles.


Akemi apertou o ícone de gravação e mirou onde vinha aquele estrondoso som tempo suficiente para capturar tudo acontecendo... 

Raposa | Shuntaro ChishiyaOnde histórias criam vida. Descubra agora