Capítulo IV

1.5K 178 4
                                    


Sem olhar para trás, os gritos de agonia e água corrente faziam cada pelo de seu corpo se arrepiar em um completo pânico. Akemi descia as escadas e fazia as curvas daquele labirinto o mais rápido que podia, suas mãos deslizando pelos escombros quando estes atrapalhavam sua passagem a ajudando a pular.


Akemi sentia o calor fazer suor escorregar por todo seu corpo, era desconfortável, exigia o dobro de esforço e dava ao ambiente uma sensação de que não tinha ar suficiente para seu peito. Mas ela não podia parar, olhar para trás, sempre continuar em frente era a melhor solução para aquele pesadelo.


Sua mente pensava em seu irmão em busca de uma força de vontade para continuar, mas quando algo se jogou contra ela a desequilibrando, Akemi teve de ver escombros caírem sobre si antes que tudo se apagasse em uma profunda escuridão.


 ♠ — ♠


Ela não sabia quando ou quanto tempo demorou para recobrar a consciência, mas sabia como: a dor de estar sendo espancada sem misericórdia a fez voltar a realidade e agir no mesmo instante em que seus olhos se abriram.


Com um soco, ela afastou o que estava sobre seu corpo sem sequer ter noção do que era de fato. Se apoiando em seus cotovelos, tentou se erguer com dificuldade, a mandíbula doendo depois de ter sido acertada algumas vezes, enquanto seu corpo fraco parecia rodar.


Forçando a visão, viu quando Fantasma se levantou partindo para cima da mulher antes que Akemi pudesse escapar grudando em seu tronco para desferir um novo soco no rosto da dançarina que não deixou isso acontecer sem lutar.


Agarrando o cabelo de Fantasma, Akemi se debatia para a afastar ou conseguir trocar de posição.com a mais velha que não parava de a golpear. Suas pernas se debatiam, seu corpo era forte, mas cansado de tanto esforço, ele cedia ao peso caindo várias vezes de volta para o quente chão.


— Eu sabia que devia ter te matado assim que a vi — A voz de Fantasma se sobressaiu aos sons que aquele atormentador lugar produzia. O calor a fazia arfar em busca de ar enquanto tentava falar e se recuperar do esforço para manter Akemi parada — Eu... Eu demorei para reconhecer você...


— Me reconhecer — Sem desistir, a mais nova se mexeu recebendo um novo soco em seu rosto.


— Raposa — A mulher soltou entre dentes, o desprezo pela existência da menor consumindo sua sanidade — Foi por culpa sua que eu fui demitida anos atrás.


— Você... — Com a fala Akemi se obrigou a pensar recordando da mulher que a assediou durante dois anos que estava no início de seu trabalho no clube. Só podia ser ela, agora que parou para pensar, as ações não eram diferentes daquela mulher — DROGA! Eu deveria ter notado antes!


Se mexendo mais um pouco, sentiu sua cabeça ser erguida e logo empurrada contra o chão. A dor invadiu como um choque a fazendo emitir um som agoniante, a dançarina não sabia mais o que fazer, esse seria o fim dela e talvez de Fantasma.


Cega por vingança, ela talvez nem mesmo conseguisse fugir daquele lugar em brasas... A mais nova fechou os olhos, talvez em rendição, jogando sua vida para o alto e desistindo da luta, mas as lembranças de seu irmão, sua voz, saber que ela o deixaria para a sorte e crueldade do mundo, não... Ela não se perdoaria! JAMAIS!


Levando a mão livre até onde estava seu canivete, Akemi o puxou libertando a lâmina afiada de sua proteção de couro preto desferindo o primeiro golpe na perna de Fantasma. Por reflexo a mais velha levou a mão até a região onde sangue fresco e quente se esparramava e manchava.


Com o descuido, a mais nova aproveitou para, usando todas as forças, empurrar o corpo sobre si. Engatinhando, tentou sair o mais rápido dali e quando teve seu pé agarrado, chutou com força para se livrar do aperto.


Fantasma novamente tentou se jogar contra Akemi, mas dessa vez, com a faca em mãos, a mais nova mirou na boca do estômago sentindo o sangue quente melar sua pele e se grudar em sua roupa. Ela sentiu a bile subir, havia desferido um golpe potencialmente fatal em uma ex colega de trabalho e agora, com peso na consciência, teve de lutar para conter seus sentimentos e continuar a engatinhar para fora dali.


Se passaram dez minutos e nada de Fantasma aparecer, sabendo que talvez ela estivesse morta, seus dedos tremeram com culpa e ansiedade, mas Akemi continuou até chegar em uma tubulação metálica que parecia mais a chapa de uma panela no fogo.


Lágrimas de dor deslizavam por suas bochechas enquanto suas mãos tocavam o metal se queimando no mesmo segundo, seu corpo aos poucos se acomodando naquela tortuosa chapa antes de deslizar em direção ao desconhecido enquanto gritos de dor escapavam de sua boca já exausta.


 ♠ — ♠


O vento abraçou seu corpo exausto e quase em chamas o refrescando e fazendo tremer. Era um choque que passava por cada veia a fazendo arfar em busca de ar enquanto seus dentes batiam um no outro com a mudança brusca de temperatura.


Olhando para o céu ela se perguntava quem mandava naquele inferno e desejava poder se vingar daquele que regia esse mundo. Ela estaria o divertindo agora? Quantos fugiram daquele lugar? Quantos morreram não apenas nessa arena, mas em outras?


— Eu vou me vingar — Akemi disse, lágrimas deslizando por seu rosto — De você e todos que estão se divertindo a nossas custas. EU VOU ME VINGAR!  

Raposa | Shuntaro ChishiyaOnde histórias criam vida. Descubra agora