Capítulo XLVI

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Seus ferimentos doíam enquanto a consciência oscilava o tempo todo, seus dedos pareciam formigar e o ar estava mais pesado para uma simples inalação e mesmo que seu corpo quisesse desistir, precisava se manter consciente.


Um dos motivos era a gravidade dos ferimentos, o outro que sem a pessoa de confiança ao seu lado estaria completamente exposto para o mundo cruel ao seu redor e isso era um risco que não poderia assumir no momento.


Preocupação... De fato, a verdade era que seus olhos não paravam de buscar no horizonte o menor sinal de movimentação enquanto sua mente se mantinha inquieta. O que quase sempre foi um mar frio agora se agitava por outro alguém, uma presença com forma, personalidade e nome.


Shuntaro Chishiya não se permitiria apagar até que tivesse total certeza que Akemi Saito.


Se passaram mais algumas horas até que Arisu se aproximasse ajudando Usagi a caminhar lentamente, estavam indo em direção a rainha de copas, o último jogo naquele purgatório. Se o casal estava vivo isso poderia significar apenas uma coisa...


— Akemi — A voz de Shuntaro estava aspera e sufocada em seu peito. Dor e angústia.


— Ela... Não temos certeza, mas ela foi severamente golpeada pelo rei de espadas e... — Usagi foi quem começou a dizer, incerta do que havia ocorrido com sua amiga.


— O escombro cobriu onde ela estava — Arisu tomou a frente — Desculpa Chishiya, não tenho certeza se ela está viva.


Não tinha certeza? O casal apenas seguiu em frente abandonando a todos? Oh como ele gostaria de julgar e gritar, mas seria hipocrisia de sua parte, então apenas se calou vendo os dois partir.


— Aquela mulher era um pé no saco — Niragi falou enquanto gargalhava — Era gostosa, mas chata demais. Uma pena que ela morreu antes deu ter fodido com ela.


— Se não calar a boca eu que vou foder com o que sobrou do seu corpo — Resmungou sem se importar muito com o que estava dizendo ou se aquilo fez Niragi gargalhar ainda mais.


— Eu pagava pra ver sua cara irritada.


♠ — ♠


Tudo estava em um imenso vazio, não era nem frio ou quente, dor? Não existia ali e aquilo de certa forma era bom. Seus medos foram abafados por um eco infinito enquanto o vasto escuro era a única coisa presente ali.


Era como estar se afogando, mas sem a dor da falta de ar. Deslizando entre a escuridão, flutuando sobre uma camada fina de qualquer conceito de existência e pensamento.


Quem era ela? Idade? Aparência? Nesse momento nada importava além de que seu silêncio era o mais acolhedor e reconfortante sentimento... Ou sentido... Não tinha que se preocupar com o passado e nem com o futuro, eles não existiam e isso era bom... Tão bom...


A luz estava longe como um ponto que aos poucos se aproximava tornando tudo tão quente... Quando seus olhos foram inundados pela camada brilhante seu coração se sentiu aquecido, feliz e pacífico.

Raposa | Shuntaro ChishiyaOnde histórias criam vida. Descubra agora