Capítulo XXXVII

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—Shuntaro — Akemi chamou depois de alguns minutos em silencio. O homem estava deitado no colchão que jogou no chão perto de Akemi — Qual vai ser a primeira coisa que quer fazer quando voltarmos para nossa antiga vida?


— Qual a dessa pergunta agora? — Ele não se virou, o rosto encarando a parede totalmente escondido da visão de Akemi que apenas observava os fios descoloridos que mostravam cada vez mais a raiz escura de seu cabelo — Eu não sei. Descolorir o cabelo?


— Sério? — Akemi riu de maneira zombeteira. Ela imaginou que Chishiya talvez dissesse que queria ver alguém como seus pais... Mas ele nunca falou sobre eles além do emprego — Eu vou ver meu irmão e... Quem sabe eu não procure você?


—Isso é algum tipo de ameaça? — O tom parecia um pouco brincalhão, mas Akemi não sabia se brincava ou lhe dava um leve soco por tal ousadia. Ela suspirou se remexendo na cama até que estivesse tão próxima da ponta de seu colchão que seus dedos podiam tocar os fios de Chishiya, mas ela se conteve não fazendo — Eu disse alguma mentira? Para alguém que prometeu me matar, não duvido nada que tente isso assim que voltarmos para o outro mundo.


— Outro mundo? — Questionou se interessando finalmente em saber o ponto de vista, alguma teoria daquele homem tão observador — Chishiya, você acha que aqui é um mundo diferente?


— Não gosto de pensar muito sobre. Toda vez que me pego pensando sobre tudo que consigo pensar é que estou ficando louco achando que pode existir um mundo diferente — Ele riu — Mas quem sabe?


— Eu acho que estamos todos loucos — Brincou piscando os olhos, a mão esquerda deslizando para fora da cama, os dedos tocando a coberta que envolvia seu gato branco — Mas é uma loucura que eu quero lembrar depois.


— Quer?


— Pelas pessoas que morreram... E por quem eu conheci aqui — Pensativa, sua voz saia antes de sequer pensar se deveria ou não dizer aquilo — Não é justo seguir em frente sem pagar pelas vidas que eu tive responsabilidade por finalizar...


— Vai se entregar para a polícia? — Ele a julgava, se virando, os olhos escuros encararam a silenciosa mulher que se sentia ruim por o que estava pensando e pelo que foi dito — Vai falar o que? Que lazer vermelhos descem do céu e matam pessoas?


— Assim parece estupido o que eu falei — O sorriso era nervoso, um pouco irritado agora que pensava melhor. Chishiya estava certo, ela lembrar ou não jamais iria fazer quem morreu voltar a vida, só falariam que Akemi estava louca e a internariam em algum hospício — Saquei... Foi idiota... Mas eu ainda quero lembrar de vocês. Arisu, Usagi e Kuina.


Shuntaro não falou mais nada, os olhos frios sobre Akemi que não hesitou ou se escondeu. Ela sentia ter sua mente aberta como um livro, estudada por aquele homem sempre tão cauteloso, mas estava tão acostumada em se manter naquela situação... Pelo menos se tratando de seu gato branco, ser analisada não era agora mais tão irritante... Só quando ele claramente a julgava.


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Raposa | Shuntaro ChishiyaOnde histórias criam vida. Descubra agora