Capítulo XLI

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Aquele restaurante era perfeito para Chishiya: próximo da universidade e hospital que estagiava, um valor baixo e mesmo assim a comida era consideravelmente descente. Aquela tarde era como qualquer outra, sem seu jaleco e vestindo sua blusa branca favorita, caminhou até o lugar abrindo a porta do restaurante deixando com que o sino anunciasse sua entrada.


Ele olhou para todas as mesas se sentindo irritado quando viu que seu lugar favorito estava sendo ocupado por uma jovem que era atendida pela garçonete. Cabelos curtos, uma roupa larga que parecia tentar a todo custo esconder suas curvas que destacavam diante da maioria.


Shuntaro não tinha muito tempo ou animo para qualquer coisa naquele momento, apenas pegou um lugar para se sentar o mais longe de qualquer outra pessoa.


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Seu primeiro jogo foi um seis de ouros, foi não apenas sua primeira vez jogando algo naquele mundo como também tendo contato com as regras do jogo vinte-e-um. Não foi difícil entender todas as regras que os demais participantes não fizeram questão alguma de ensinar.


Outra coisa que foi muito fácil e completamente sem graça foi vencer. Os participantes pareciam se garantir em seus truques burros e tão faceis de se identificar que parecia coisa de criança. A morte não demorou em ceifar todas aquelas vidas o garantindo como único vencedor.


Para Chishiya, aquele mundo era uma cópia tediosa do outro.


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Em um jogo havia ganhado um pequeno e irritante ferimento. Nada que o preocupasse, no entanto, seu estoque de remédios na Praia era precário e sem escolhas teve de sair daquele lugar em busca de alguma farmácia que não tenha já sido completamente vasculhado e limpo.


Demorou um pouco para chegar em uma zona em que a milícia não tenha ainda explorado completamente. Chishiya estava cansado, as noites mal dormidas, a alimentação que parecia nunca ter sabor e nesse mundo somente piorou, o ferimento... Ele sentia seu corpo esgotado de caminhar e ainda precisava voltar.


Ao passar perto de uma pequena mercearia pensou se deveria entrar para pegar alguma garrafinha de água para aliviar os sintomas da exaustão, no entanto, antes de puxar a porta vasculhou silenciosamente com seu olhar o interior escuro e empoeirado do lugar notando uma silhueta aparecer das prateleiras.


Ela parecia alheia ao seu entorno, um tecido sobre o rosto e as mãos ocupadas com os mantimentos que havia acabado de pegar enquanto seus olhos se prendiam a algo: uma barrinha de chocolate. Shuntaro se manteve silenciosamente entretido em observar a maneira totalmente alheia da realidade ao seu entorno encarar e ponderar se deveria ou não devorar aquele chocolate tentadoramente oferecido a sua frente.


Chishiya deu um pequeno sorriso de canto quando viu a mulher agir de maneira tão eufórica enquanto passava mal apenas para saciar uma vontade primitiva. Ele estava prestes a desistir de encarar sua cobaia viva quando se sentiu de certa forma curiosa ao constatar que ela finalmente havia notado sua presença.

Raposa | Shuntaro ChishiyaOnde histórias criam vida. Descubra agora