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Not the whole truth

- Pablo Gavira -

- Você estava me enrolando? - Perguntei depois de uma hora de jogo.

Tínhamos parado de mostrar as cartas há um bom tempo. Ela havia aprendido o jogo com facilidade. Não sabia bem que mãos superavam outras, como disse, mas isso não tinha importância. Ela ainda ganhava de mim em quase todas as rodadas. Ainda bem que havia recusado minha proposta de apostar segredos.

- Você já sabia jogar, não sabia? - Questionei.

- Não...

- Está escondendo cartas na manga ou alguma coisa assim?

Sem pensar, segurei a mão dela, virei a palma para cima e deslizei os dedos pelo pulso. Agora conseguia ver nitidamente mais uma cicatriz. Meu dedo traçou o relevo da marca sem minha autorização... ou a dela.

Alice me encarou.

- Eu não trapaceio. - Ela disse, puxando seu braço para longe de meu alcance.

Guardei minha mão.

- Falei de brincadeira. - Admiti, ainda pensando no que havia acabado de acontecer.

Ela recolheu as cartas e as entregou para mim.

- Talvez tenha que embaralhar melhor.

Ameacei protestar, mas percebi que ela estava brincando quando vi um sorriso em seus lábios. Eu ainda não acreditava que ela era capaz de sorrir para algo ou alguém que não fosse Neymar.

- Eu embaralho superbem. - Falei, já embaralhando as cartas outra vez. - Você é que tem sorte. Muita, muita sorte.

- Tem razão. Sou a mulher mais sortuda da Terra. - Sua voz não era sarcástica, mas eu sabia que a resposta era. E com todo o direito.

Ela não era uma mulher de sorte, exceto no jogo. Além disso, embora estivesse ganhando de mim nas rodadas, a distração não colaborava muito para melhorar seu humor. Na verdade, ela parecia ainda mais retraída.

- Por que fez isso? - Acenei com a cabeça em direção à incisão.

- Esse jogo não é o mais famoso no Brasil.

Demorei um momento para compreender que a frase não era a resposta para minha pergunta.

Distribuí as cartas para outra jogada. Agora que ela evitava minha pergunta, a única coisa que me restava era olhar para a cicatriz. Queria saber o motivo, por que ela não me contava. Havia muitas coisas que eu gostaria de saber sobre ela.

Peguei minhas cartas. Pela primeira vez, eram boas.

- Já se sente preparada para apostar perguntas? - Insisti.

- Como assim?

Baixei as cartas para olhar para ela.

- Se eu ganhar, eu te pergunto uma coisa e você me responde sem mentir. Se você ganhar, você me pergunta. - Esclareci.

- Eu ganhei as últimas nove mãos, lembra? - Ela tinha um ar desafiador.

- Nove? Sério? Você contou?

- Contei.

Eu ri.

- Então você não tem nada a perder.

Ela pegou as cartas e olhou uma por uma.

- E aí? Topa?

- Por que não?

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