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ALERTA: Gatilho de ansiedade

Anxiety

- Neymar Jr -

Alice estava inquieta. Acredito que apenas eu tenha percebido, mas ela empurrava a cutícula com sua própria unha, estalava os dedos e mordia os lábios a todo momento. As cenas que eu presenciava estavam me dando agonia.

Eu estava sofrendo junto com ela. Sei que não é a mesma coisa, sei que a minha dor nem se compara a dela, mas ver a minha melhor amiga, minha irmã de outra mãe, se machucando e sofrendo daquele o jeito me destruía. O pior é pensar que se eu não a conhecesse, estaria igual aos outros, não iria perceber sinais que me parecem tão óbvios.

Alice sofria com problemas psicológicos desde a infância, porém tudo piorou depois do acidente. Ela nunca mais foi a mesma depois do que aconteceu com Leonardo.

Não consegui assistir aquela tortura por mais tempo. Fui até Adrian, que sabia sobre os distúrbios mentais de Alice, e o avisei que ela estava prestes a ter uma crise. Agradeci aos céus quando ele nos liberou do treino.

Por mais importante que os treinos sejam, todos nós sabemos que a saúde mental também é de extrema importância, além de termos consciência de que uma Alice tendo uma crise durante o treino seria muito pior do que nós liberar mais cedo.

Caminhei de volta até o lado dela e a abracei de lado. Sussurrei em seu ouvido que tudo ficaria bem e que já estávamos saindo daquele ambiente. Ela apenas anuiu e continuou de cabeça baixa, ainda mexendo em suas cutículas.

Com muito cuidado para não chamar a atenção de ninguém, a guiei até fora do campo. Infelizmente minha missão foi mal sucedida, levando em consideração o que ouvi Gavira murmurar.

- Mimados privilegiados.

Não vou mentir ao dizer que não me segurei para dar um soco no garoto, apenas o ignorei e fiquei feliz ao perceber que Alice não havia o escutado. Na situação que ela estava, eu tinha ficado surpreso ao saber que ela havia me escutado mais cedo, no momento em que a tirei do campo.

O que me tirou do sério não foi o que Gavi falou, mas o momento em que ele falou. O garoto agiu como se soubesse exatamente o que estava acontecendo, mas ele nem imaginava o quão sério era aquela situação.

As crises de Alice se intensificaram muito depois do acidente e isso me preocupava. Antes as crises não eram assim tão comuns, mas agora... Bom, agora era relativamente fácil de acontecerem.

Eu sei que o motivo dela gostar tanto dos esportes é conseguir se distrair e não dar brechas para sua mente encontrar qualquer gatilho que for. Um dia inteiro correndo, pulando, treinando passe de bola ou saque é a salvação dela, porque ela apenas se preocupa com seu rendimento.

Eu tinha uma ideia do gatilho da vez, mas esperava que, assim como nos outros dias em que ela passou treinando comigo, os remédios fossem retardar as crises. Não foi dessa vez.

A direcionei até o vestiário feminino, onde estava vazio, já que as garotas estavam treinando naquele horário. Minha intenção era encontrar seus remédios, mas assim que comecei a mexer em suas coisas atrás dos frascos de comprimidos, ela me deu um aviso.

- Estão em casa... - Sua voz saiu falhada.

O desespero e a vergonha em sua voz eram perfeitamente perceptíveis. Para uma pessoa como Alice, que sempre buscava parecer indestrutível, ter uma crise em público era a pior coisa que poderia acontecer na vida. Eu não a julgo em momento algum, pois sei o que as pessoas podem fazer e dizer ao presenciarem um momento como esse. As pessoas podem ser cruéis como Gavi foi, as pessoas podem dizer que é apenas drama, mas dizem isso por não saberem a gravidade da situação.

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