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Trust issues

- Pablo Gavi -

Às cinco da manhã o celular de Alice despertou, ela nem se mexeu. Desliguei o aparelho e não pude evitar de pensar o quão pesado estava aquele sono. Há quanto tempo ela não tinha um sono de qualidade?

Continuei ali, acordado, ao lado da garota, apenas fazendo um leve carinho em seu braço e esperando que ela estivesse melhorando.

Se passava das dez horas e ela ainda não tinha acordado. Sabia que ela não teria treino naquele dia, era arriscado treinar antes de um jogo, mas também sabia que ela não poderia continuar dormindo.

Eu precisava acordá-la, só não sabia como fazer isso sem levar um tapa. Tirei minha mão fe seu ombro e levei até sua bochecha, acariciando a mesma.

- Alice. - Sussurrei.

Ela nem se mexeu. Claro, ela não tinha nem escutado aquele despertador estridente, como iria escutar um sussurro meu?

- Alice, hora de acordar. - Continuou não dando certo.

Caramba, é um ser humano ou um urso em época de hibernação?

Tive uma ideia. Comecei a aproximar meus lábios de seu rosto, talvez ela acordasse com um beijo na bochecha. Isso dava certo com meus pais.

Antes que eu estivesse perto o suficiente, Alice começou a se remexer na cama. Me afastei de imediato. Ela se espreguiçou e finalmente abriu os olhos. Eu a encarava.

- Que horas são? - Sua voz saiu completamente rouca.

- Já passou das dez. - Respondi.

A menina que antes estava quase voltando a dormir, arregalou os olhos e se sentou na cama em um rápido movimento. Fiquei surpreso por ela não ter ficado tonta. Ela não tem labirintite?

- E você nem para me acordar? - Eu não sabia que precisava escutar sua voz rouca e brava antes de escutá-la.

- Quem disse que eu não tentei? - Rebati. - Você dorme que nem uma pedra.

Alice me ignorou. Ela pegou algumas roupas em sua mala e produtos que ainda não tinha deixado no box, depois trancou a porta.

Quando ela saiu do banheiro, fomos até o café da manhã separado apenas para os times.

Aquele café foi decepcionante. Adrian e Xavi conseguiram apenas alimentos saudáveis, não tinha uma mísera torta de morango, um bolo de chocolate ou um pão que não fosse cheio de grãos.

Alice e eu nos servimos e nos sentamos na mesma mesa, um de frente para o outro. O local estava completamente vazio, a não ser por nós dois.

- Você me odeia? - Perguntei com receio.

Alice parou de levar o garfo com um bolo de cacau sem glúten, sem lactose e sem açúcar para a boca e me encarou.

- Você já sabe a resposta. - Deu de ombros e voltou a se concentrar em sua refeição.

- Mas eu quero ouvir de você. Então, você me odeia? - Insisti.

- Não. - Ela respondeu, bem baixinho.

Sorri.

- Mas não confia em mim, não é? - Voltei a fazer questionamentos.

Escobar terminou de mastigar o que era mais próximo de um doce daquele lugar e depois me respondeu.

- Honestamente, eu apenas tenho problemas de confiança. - Ela confessou. - Estou apenas deixando você saber que estou emocionalmente indisponível. - Não era uma confissão, era mais um aviso. - Eu adoraria retribuir seu interesse, mas eu sou incapaz. Eu sei que você não entende, mas eu sou tão instável e tudo que eu conseguiria, e consigo, pensar é como você seria infiel, não amorosamente, mas como iria me trair de algum jeito. Você pode achar que eu sou louca, mas isso... isso não vai me fazer mudar. - Abri minha boca para retrucar, mas fui interrompido antes mesmo de começar. - E não, você não pode me mudar. Apenas saiba que você não pode me salvar. Acho que eu penso demais ou talvez seja você que não pensa o suficiente. E eu não quero dizer que eu não namoraria você, se eu não fosse tão apegada ao meu passado e não tivesse medo de deixar as pessoas entrarem na minha vida, mas não é esse o caso. E eu jamais poderia dizer que te odeio, quer dizer, eu até poderia, mas não seria verdade.

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