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Soccer team

- Alice Escobar -

Assistir um jogo é milhões de vezes pior do que participar da partida. Eu gritava a cada agressão que o Barcelona sofria, principalmente quando o alvo era Neymar.

Meus nervos estavam a flor da pele.

Cada quase gol era uma sensação diferente. Cada quase gol dos adversários deixava meu corpo tomado pelo medo.

Aos 33' do primeiro tempo, Neymar fez uma assistência para Gavi, que abriu o placar.

Eu gritei, a plateia gritou. Fazia tanto tempo que eu não gritava daquele jeito, tanto tempo desde a copa de julho desse ano. Na verdade faziam alguns meses, mas a energia de um estádio é completamente diferente de assitir um jogo pela televisão. Eu me levantei junto com o restante dos torcedores do Barcelona, todos gritando e pulando.

Gavi passou correndo pelo campo e comemorando. Quando chegou próximo ao local onde eu estava sentada, o mesmo beijou o escudo do Barça em sua camiseta e apontou para mim. A torcida foi a loucura. Eu fiquei confusa.

Ele dedicou o gol a mim?

Mesmo confusa, o sorriso não saiu de meu rosto. Percebi que estava aparecendo no telão. Ao fundo vi Neymar rindo.

O jogo logo recomeçou.

Aos 44' do primeiro tempo Jan Sýkora igualou o placar. Foi a vez da torcida do Plzen comemorar.

Aos 45+3' foi a vez de Gavi dar assistência ao Neymar. A plateia do nosso time foi a loucura. Se eu achei que tivesse perdido toda a minha voz com o gol do Gavi, eu tive certeza que não poderia falar até voltar para Barcelona com o gol de Neymar.

O mais velho correu pelo campo, seus dedos fazendo o 22, número da minha camisa, depois apontou para mim, assim como Gavi.

Gavi eu não tenho certeza absoluta, mas Neymar definitivamente dedicou esse gol a mim.

Aos 63' Tomáš Chorý igualou o placar, mais uma vez. A torcida adversária comemorou, enquanto os que estavam no estádio para ver a vitória do Barcelona ficaram decepcionados.

Tive medo de irmos para os pênaltis, mesmo sabendo que ainda tinha muito jogo pela frente.

Lewandowski trouxe esperança quando marcou aos 67', com assistência de Jordi Alba.

Ferran pontuou aos 71', com assistência de Raphinha.

Aos 90+2' Araújo prestou assistência a Pedri.

O Barcelona ganhou, mais uma vez.

Não sabia se estava feliz ou aliviada.

No jogo do dia anterior, o time de futebol inteiro havia ficado com as reservas, já que uma parte estava realmente sendo reserva e a outra simplesmente não tinha para onde ir. Mas nesse jogo eu estava apenas na arquibancada, por isso não corri até Neymar.

Observei os titulares e os reservas daquele jogo se juntarem em um abraço coletivo. Todos gritavam e pulavam em comemoração. Sorri com a cena.

- Visca al Barça y visca a cataluña! - Eles gritaram em uníssono.

- Visca al Barça y visca a cataluña! - A torcida respondeu.

- Visca al Barça y visca a cataluña! - Sussurrei, sorrindo com a vitória do meu time.

Quando os jogadores foram liberados para os vestiários, Neymar desviou um pouco a rota e foi em minha direção. Sorri com o ato. Sai de meu lugar e fui ao seu encontro.

Nos abraçamos. Não foi tão intenso como havia sido no jogo anterior, mas ainda era um abraço de parabenização pela vitória.

- Obrigado por ter vindo. - Sua voz saiu abafada.

- Eu não perderia esse jogo por nada. - Respondi, ainda com meu rosto enterrado em sua clavícula.

- Muito cedo para comemorar? - Indagou.

- Com certeza.

Rimos e continuamos naquela posição por mais alguns segundos. Logo Xavi o chamou e ele foi para o vestiário.

Fiquei impressionada com o respeito que a torcida havia tido em não nos atrapalhar para tentar pegar um autógrafo ou foto com meu melhor amigo. Suspeitei qual poderia ter sido o motivo, mas não liguei.

Os meninos demoraram muito para sair do vestiário, então aos poucos o estádio foi esvaziando. Alguns torcedores do meu time vieram tirar foto comigo.

Fiquei esperando no banco da arquibancada, mexendo no celular.

Choquei foi, outra vez, a primeira página de fofoca a fazer um post dizendo que minha relação com o Neymar era mais do que amizade. Ela estava certa. Éramos irmãos.

Mais do que irmãos, siblings.

O perfil também escreveu sobre o gol que o Gavi dedicou a minha pessoa. Tiveram a cara de pau de dizer que os dois haviam me dedicado um gol por estarem concorrendo pelo meu coração. Eles não tinham mais o que fazer? Ninguém tinha um chão para varrer ou uma louça para lavar? Céus, eles eram outro nível de fanfiqueiros.

Entrei em uma luta interna para decidir se iria ou não abrir os comentários. Decidi entrar um pouco no TikTok, onde praticamente só achei edits do jogo de hoje, incluindo as brigas, os gols, as comemorações e a escapulida do Neymar. Entrei no Instagram e era basicamente a mesma coisa. Percebi que a melhor alternativa era ficar longe das mídias sociais, por isso peguei meu fone de ouvido no meu bolso e comecei a escutar música.

Mais alguns minutos e eu acho que teria dormido. Os garotos finalmente apareceram e fomos até o transporte que nos levaria de volta ao hotel. Assim como no jogo de estreia de vôlei, a volta foi pura festa.

Quando descemos, Xavi puxou Neymar para um canto, provavelmente para falar sobre entrevistas, e eu fui para o meu quarto. Gavi me acompanhou nas escadas.

- Você não precisa fazer isso. - Falei, quando já estávamos quase chegando no sexto andar.

- É um exercício de perna que está me ajudando. - Foi a resposta que ele deu.

Continuamos em silêncio até chegarmos no nosso andar.

- Xavi veio falar comigo. - O garoto puxou assunto. - Disse que vou ser o camisa 6. - Sua última frase foi dita assim que ele destrancou a porta do nosso quarto. - Ele quer que eu seja registrado com jogador principal.

- Isso é incrível, Gavira! - Exclamei, me virando para ele.

Realmente era uma boa notícia.

- Mas só se eu renovar com o time. - Ele não parecia empolgado.

- E você pretende renovar o contrato?

Pablo respirou fundo antes de responder:

- Eu não sei.

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