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Happy pills

- Alice Escobar -

"O inferno está vazio e todos os demônios estão aqui."

Encarei a frase por alguns segundos, não tendo dúvidas de que ela estava completamente certa.

Fechei o livro "A Tempestade" de Shakespear e o deixei sobre a escrivaninha do escritório.

Eu estava muito perdida em pensamentos para continuar prestando atenção no livro.

Sentei no sofá do escritório, virei a cabeça para a janela e fiquei assistindo o dia correr.

Olha, eu não lutei com todas as minhas forças só para deixar que um probleminha me tire da minha posição e interrompa a minha visão. Depois de tudo o que presenciei, depois de todas essas decisões, todas estas milhas, pés, polegadas, elas não podem somar a distância que eu percorri, apenas para chegar a um lugar onde, mesmo que não haja fechamento, ainda estou segura. Ainda sinto falta de tentar manter o ritmo.

Alguém me dê um sinal, estou começando a perder a fé.

Agora me diga: como todos os meus sonhos se transformaram em pesadelos? Como eu perdi quando eu estava lá? Agora, estou tão longe que parece que tudo ficou em pedaços. Diga-me por que o mundo nunca luta justo?

Estou tentando encontrar minha casa, um lugar onde posso ir para tirar o peso dos meus ombros.

Olha, já passei por tanta dor e é difícil de manter qualquer sorriso no meu rosto, porque há loucura no meu cérebro. Então eu tenho que voltar, mas minha casa não está no mapa. Preciso seguir o que estou sentindo, descobrir onde ela está. Eu preciso da memória. Caso este destino seja para sempre, apenas para ter certeza de que estes últimos dias serão melhores, e, se eu tiver alguns haters, para me dar a força, para olhar na cara do diabo e chegar em casa a salvo.

Não encontrei cura para a solidão, não encontrei nenhuma cura para a doença. Nada aqui nesse apartamento se parece com casa. Ruas lotadas, mas estou sozinha.

- Você devia ter percebido que ele não prestava quando disse que não gostava de Taylor Swift. - Davi anunciou sua entrada.

Sorri para a criança.

Ele correu até o sofá e me abraçou. Logo se sentou ao meu lado e começou a me encarar.

- As perdas fazem parte da vida. - Falou, colocando uma mão em meu ombro. - Algumas pessoas perdem o primeiro amor, outras perdem a harmonia num relacionamento, tem gente que perde a esperança e outros a paciência e outros perdem a alma, alguns perdem as certezas e alguns não tem nada a perder. As perdas fazem parte da vida, mas coisas boas vem também! Aceite o inesperado e o acolha. Cada primeira vez é uma aventura e quem sabe até onde essas aventuras vão te levar? Vai encontrar alguém pra quem possa entregar o seu coração com total confiança, essa confiança pode até ser perdida, mas sempre pode ser restaurada. É às vezes o caminho é tortuoso, você pode até se perder no caminho, mas com a ajuda das pessoas certas você sempre encontra o seu destino. Quando envelhecemos percebemos que a vida nem sempre nos dá tudo que esperávamos.  A perda faz parte da vida, mas não a define, porque o que importa na verdade não é ganhar ou perder, e nossa capacidade de aceitar as mudanças em nós mesmos, aceitar mesmo que a vida não nos dé o que esperávamos. O verdadeiro presente é a propria vida.

Céus, quantos anos esse garoto tem? Eu me recuso a acreditar que ele tem menos de 60!

- De onde você tira todas essas palavras bonitas? - Questionei com uma curiosidade genuína.

- Alguém me incentivou a ler alguns livros por aí.

Nós rimos.

- Esse alguém é uma influência positiva, Davi.

Sorri para aquela criança que com certeza não era uma criança.

- Davi, meu filho, posso conversar com a sua madrinha a sós? - Neymar apareceu na porta. Ele também sorria.

- Pode usar a televisão do meu quarto. - Sussurei para ele, que se levantou em um salto e correu até a porta.

- Seja a protagonista da sua história, não a plateia da história dos outros. - Disse, antes de correr escada acima.

Esse garoto, definitivamente, não é desse planeta.

A passos curtos, Neymar foi até o tal sofá e sentou-se exatamente onde Davi esteve segundos antes.

- Como você está fazendo isso? - Ele questionou, preocupação presente em cada suspiro.

- Fazendo o quê?

- Como está lidando com todo esse hate, toda essa perseguição, o término, a pressão da diretoria para que você volte a trabalhar...

Oh... Como eu explico isso?

- Eu tomo minhas pílulas e fico feliz o tempo todo. - A preocupação deu lugar ao pesar. - Eu amo um garoto, mas ele não vale a pena. Não, ele não vale a pena...

- Li- Não deixei que ele continuasse.

- As vozes no lado direito do meu cérebro são meio engraçadas, dizem-me: Tome um pouco de fôlego, é sempre ensolarado. - Soltei um pequeno suspiro antes de finalizar. - Tomamos coisas estranhas para nos sentirmos normal.

- Não, isso não é certo. - Neymar lamentou. - Você não precisa se esforçar tanto. Você não tem que abrir mão de tudo. Você não tem que abrir mão da sua saúde. Você só tem que levantar e viver os dias aos poucos, Lili. Você não tem que mudar nada. Você não tem que tomar nada. - Contei dois segundos de silêncio. - E você sabe que pode contar comigo nesse seu período de recuperação. Você sabe que pode ficar na minha casa para fugir de todas essas pessoas na portaria te impedindo de sair. Você sabe que posso te ajudar a ficar sóbria outra vez.

Sim, esses remédios são viciantes. Esses remédios são drogas.

Não tive a chance de terminar de digerir suas palavras e respondê-lo.

Meu celular tocou. Ele estava ao lado do livro, ambos na escrivaninha. Neymar se levantou e atendeu a ligação.

Fiquei lá, apenas pensando no que havia escutado de Davi e de Neymar.

- Pode marcar a próxima consulta. Não vai ser só a Isabel que vai ganhar muito dinheiro com essa notícia.

Ri.

Como ele consegue fazer eu rir da minha própria desgraça?

Seja a protagonista da sua história.

A voz de Davi reverberou dentro da minha cabeça.

Como é difícil lembrar que a gente por si só se basta, que somos completos, imensos, capazes, mesmo que sozinhos.

- E então, o que você decidiu?

- Eu serei a heroína da minha própria história. - Respondi. - Eu escolho a mim mesma... E assim jamais ficarei decepcionada.

Orgulho. Não decepção, não pesar, não tristeza, muito menos preocupação, era orgulho que estava estampado em seu rosto.

- O que você quer, Alice Escobar?

- Quero ser feliz. - Afirmei, sorrindo.

- É a resposta perfeita.
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Alguém aí falou em maratona de 15 capítulos ou maratona até o final dessa história? É, promessa é dívida.

Gostaria de agradecer a todos os leitores dessa fanfic, ainda mais depois da meta de 100K batida anteontem (03/05/23).

Acredito que não teremos uma nova maratona nessa história, mas com certeza teremos na spin-off que foi pedida por vocês.

Spoiler: Não vai demorar para ser postada. Apostem no mesmo dia que sair o último capítulo dessa aqui.

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