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Perfect Illusion

- Alice Escobar -

Olhei outra vez para o espelho, mas vi apenas a versão mais triste de mim.

Todo mundo sabe meu nome agora, mas algo sobre isso ainda parece estranho, como olhar em um espelho, tentar se firmar e ver outra pessoa.

E nem tudo é o mesmo agora. Parece que todas as nossas vidas mudaram. Talvez quando eu for mais velha, tudo vai se acalmar. Mas isso está me matando agora.

Estou tão solitária.

Todo mundo conhece meu passado agora, como se minha casa sempre fosse feita de vidro. E talvez esse seja o preço que você paga pelo dinheiro e fama em uma idade muito nova. E todos me viram doente e parecia que ninguém dava a mínima. Eles criticaram as coisas que eu fiz quando era uma garota idiota.

Eu não queria que eles soubessem meus segredos. Eu não queria que eles soubessem do jeito que eu te reagi. Eu não acho que eles vão entender, não. Eu não acho que eles iriam me aceitar, não.

Estou solitária para caralho.

Saí de meus devaneios assim que escutei sons de passos na escada.

- Alice, você está bem? - A voz masculina tomou conta de meus ouvidos. - Eu vi as notícias e vim correndo direto para cá.

- Estou bem. - Respondi, como se fosse apenas uma pergunta rotineira que fosse feita apenas por educação.

Mas não era.

Neymar não fez aquela pergunta por educação. Não daquela vez.

- Não minta para mim, princesa.

Como posso dizer isso sem quebrar? Como posso dizer isso sem assumir? Como posso colocar em palavras quando é quase demais para minha alma sozinha?

- Não me faça perguntas e não precisarei mentir.

Eu amei e amei e perdi você. Dói pra caralho. Sim, dói como o inferno.

Ficamos em silêncio.

Neymar me encarava com pesar nos olhos. Era um pai reagindo ao coração partido da filha.

O silêncio sempre foi o meu grito mais alto. O problema é que as pessoas à minha volta estavam barulhentas demais para perceber isso. Acontece que com Neymar era diferente. Ele não era barulhento o suficiente para não entender.

Ele caminhou a passos largos até mim e me abraçou. Não era o tipo de abraço rápido que durava poucos segundos. Não, era um abraço diferente. O tipo de abraço que dizia: pode molhar minha camiseta com suas lágrimas.

Foi o que eu fiz.

- É pedir demais querer ser amada? Olhar nos olhos de alguém e ver... - A minha voz se partiu, e seguiu-se mais silêncio. - E ver ternura. Saber que ele realmente quer estar comigo e dividir a vida dele comigo.

Neymar estremeceu por menos de um segundo, antes de dizer:

- Não vou mentir ao dizer que ele não te amou. - Soltei uma risada anasalada sem humor. - Cedo ou tarde, ele te amou em algum momento.

Eu senti você me tocando, chapada como anfetamina. Talvez você seja só um sonho. Isso é o que significa ter uma queda por alguém. Agora que estou acordando ainda sinto a pancada, mas pelo menos, agora eu sei...

- Não era amor, não era amor. Confundi com amor, não era amor. Era uma perfeita ilusão.

- Não diga isso, Alice... Por mais que eu não goste do sujeito, eu não consigo aceitar que ele fingiu em todos os segundos e aspectos.

Acontece que ele, assim como eu, sabia que era mentira. Nós dois sabíamos que ele havia fingido desde o dia que trocamos nossas primeiras palavras no vestiário.

E não demorou muito para que Neymar admitisse que nem ele acreditava em sua própria declaração

- Qualquer um, qualquer coisa, pode trair. Mesmo o seu próprio coração. - Suspirei contra seu ombro.

Finalmente entendi a lição: todo mundo pode trair todo mundo.

Todo mundo pode trair todo mundo, e Gavi não é exceção.

- No que está pensando? - Ele perguntou, assim que nos separamos do abraço e pôde analisar meu rosto.

- No que meus "fãs" estão falando de mim.

Neymar riu das aspas que fiz com os dedos.

- Se eles forem seus fãs de verdade, eles não vão ir contra você.

Outra vez, nem ele acreditava em suas palavras.

Neymar estava dizendo aquilo para me confortar, mas era pior só que a verdade.

- Eles têm medo de que isso os afete. Ninguém nunca ajuda. Era assim na época da escola e continuará sendo. Nada mudou. É como um túnel sem fim. Eu simplesmente não posso escapar.

Naquele instante eu pensava apenas na mídia, nos internautas, no que falariam sobre mim. Acontece que tinha assuntos pessoais que foram ignorados e voltaram com todo o impacto depois.

- Você não precisa se importar com esses idiotas que não tem o que fazer, Lili.

- Minha carreira depende disso, Neymar. - Afirmei.

Não existe figura pública sem público.

- Sua carreira depende do quão bem você joga, não do que os leitores de contas como a da Choquei estão falando sobre você.

Não acreditei em suas palavras. Naquele momento, sua fala entrou por um ouvido e saiu pelo outro.

- Alice. - Chamou minha atenção. Uma mão em um de meus cotovelos. - Tudo passa, você vai ver, tudo passa.

Ele tinha razão. A vida dá um jeito de manter a gente vivo mesmo quando a gente morre de dor.

- Nós sabemos que em poucos dias outra pessoa vai ser exposta e todos vão esquecer tudo o que publicaram sobre você.

Era triste pensar por essa perspectiva. Era horrível desejar o sofrimento de alguém, a desgraça de alguém para que eu ficasse bem. Por mais real que fosse a situação, não deixava de ser um pensamento deplorável.

Sorri para ele. Sorri para a pessoa que sempre esteve ao meu lado na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza.

- Eu acho que você tem que dar um fim a isso. - Por fim, ele falou. - E não digo isso como seu amigo, mas como seu irmão mais velho. Não acho que as coisas possam voltar a ser como antes, ainda que quisesse. Talvez durasse um pouco, mas daqui a alguns meses algo mais vai acontecer e você vai estar de novo aqui nesse quarto. Seja honesta com você mesma, Lili, com relação ao Pablo e a essa situação, e tudo que se construiu sobre mentiras e inverdades vai se afastar de você. Lembre-se, um amor que não inclui a honestidade não merece ser chamado de amor.

Suspirei, vazia, deprimida e cansada.

Existem várias formas de matar a pessoa que você ama. A forma mais lenta é nunca amá-la o suficiente.

Amar é difícil, nem sempre funciona, você apenas tenta o seu melhor para não se machucar. Eu costumava ficar brava, mas agora eu sei... Às vezes é melhor deixar alguém ir.

- Vou terminar com ele ainda hoje.

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