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Scars

- Pablo Gavira -

Meus olhos se abriram de repente.

Estava escuro como breu. Silencioso. Eu me levantei rápido demais.

Devia ter pegado no sono. Não fazia ideia de que horas eram, mas uma olhada rápida pelo quarto me disse que Alice não estava no mesmo cômodo que eu.

Deslizei para fora da cama.

A porta do escritório de Alice estava com uma fresta aberta.

Havia uma faixa de luz espiando pela abertura e isso me fazer pensar se ela realmente se esqueceu de fechar ou se, talvez, se tinha acabado de entrar. Talvez ela nem esteja lá. Mas minha curiosidade ganhou de minha consciência desta vez.

Eu queria saber onde ela pintava, já que ela comentou que raramente trabalhava na sala, queria saber se ela era bagunceira ou organizada ou se deixava seus itens pessoais por perto. Perguntei-me se ela tinha alguma foto de si mesma quando criança.

Ou dos tios.

Eu avancei nas pontas dos pés, borboletas sendo acordadas no meu estômago. Eu não devia estar nervoso, disse a mim mesmo. Não estou fazendo nada ilegal. Só vou ver se ela está lá e, se não estiver, vou embora. Só vou entrar por um segundo. Não vou mexer em nenhuma das coisas dela.

Não vou.

Eu hesitei do lado de fora da porta. Estava tão silencioso que tive quase certeza de que meu coração estava batendo alto e forte o bastante para ela ouvir. Não sei por que estou com tanto medo.

Bati duas vezes na porta conforme a empurrei.

- Alice, você está…

Algo se quebrou no chão.

Eu empurrei a porta e corri para dentro, parando de repente assim que cruzei a soleira. Pasmo.

O escritório dela era enorme.

Era do tamanho do quarto todo dela e do closet combinados. Maior. Havia tanto espaço ali… Espaço suficiente para abrigar uma enorme mesa de reunião e seis cadeiras localizadas de cada lado dela. Havia um sofá e algumas mesinhas colocadas no canto, e uma das paredes era feita apenas de estantes de livros. Lotada de livros. Explodindo de livros. Livros antigos, livros novos e livros com as lombadas caindo.

Tudo ali era feito de madeira escura. Madeira tão marrom que parecia preta. Linhas limpas e retas, cortes simples. Nada era ornamentado ou volumoso. Nada de couro. Nada de cadeiras de encosto alto e madeira com entalhes superdetalhados. Minimalista.

A escrivaninha estava cheia de pilhas de pastas de arquivos, papéis, fichários e cadernos. O chão estava coberto por um tapete oriental espesso e macio, parecido com o do quarto. E, no canto mais distante do escritório, estava a área da pintura.

Alice estava me encarando em choque.

Não estava usando nada além de sua calça moletom e um sutiã, a camiseta estava jogada em um canto. Estava em pé em frente à sua mesa, agarrando algo… Algo que não podia ver bem.

- O que você está fazendo aqui?

A porta estava aberta.

Que resposta idiota.

Ela olhou para mim.

- Que horas são? - Perguntei.

- Uma e meia da manhã. - Ela falou automaticamente.

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