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The whole truth

- Neymar Jr -

Encarei a porta do quarto que continha o corpo desmaiado de Alice, antes de suspirar e começar a contar sua história para Gavi.

- Maitê, a mãe de Alice, morreu no parto. - Comecei. Gavi assentiu em concordância, como se já soubesse sobre aquilo e pedisse para que eu prosseguisse. - O pai dela, Anderson, era muito apaixonado pela esposa e quando a perdeu... Bem, ele começou a beber mais do que já bebia. Ele a culpava pela morte da mulher e a atacava, não só com palavras. - Olhei outra vez para Pablo e vi que ele já não estava gostando da história. Ele nem sabia a metade. - Anderson negligenciava o mínimo que uma pessoa precisava para sobreviver. Os aniversários de Alice nunca foram comemorados, porque Anderson lembrava da data como aniversário de morte de sua amada. Quando ela ganhava um presente de alguém, ele fazia questão de fazer com que ela nem o abrisse antes de quebrá-lo. Alice era torturada tanto fisicamente, quanto psicologicamente. Foi um alívio quando ele morreu de cirrose hepática. - Gavi pareceu não saber o que era a doença, então entrei com uma breve explicação - Uma doença crônico-degenerativa que afeta o fígado.

- É errado estar aliviada com a morte do meu próprio pai? É errado eu não ter derramado uma única lágrima naquele funeral?

Fechei os olhos com força ao relembrar o momento em que Alice havia me relatado tudo aquilo. Uma menina tão pequena e frágil...

- Então, nesse mesmo ano, ela foi morar com os tios. Eles a tratavam como a filha mais nova, o primo a tratava como a irmã que sempre desejou ter. Aquela família foi a salvação de Alice. - E realmente tinha sido. - Gabriel, o primo dela, era o meu melhor amigo. Ele sempre ia na minha casa e eu na dele. Eu estava lá quando ela chegou. Ela não era nada como agora. Naquela época, Alice era muito magra e baixa, culpa dos mal tratos do pai. Na escola, ela foi apelidada de esqueleto. Gabriel e eu a defendemos sempre que pudemos.

Vi quando Gavi engoliu a seco. A história ainda ficava um pouco pior.

- Com o passar dos anos nós fomos nos aproximando e ela foi ficando cada vez mais saudável. Chegou um momento em que ela acabou virando a minha irmã e a irmã de Gabriel também. Teve um dia, ela tinha uns 7 anos, que ela finalmente topou sair de casa e ir me assitir jogar bola. Alice ficou na arquibancada, apenas nos assistindo, até levar uma bolada na cara. - Ri, me lembrando daquele momento.

- Já imagino o quão furiosa ela deve ter ficado. - Gavi falou, soltando um pequeno riso, provavelmente imaginando a cena.

- Na verdade, não. Alice riu ao levar aquela bolada. - Os olhos do jogador próximo a mim ficaram arregalados, as sobrancelhas arqueadas e o queixo caído.

O adversário estava em posse da bola. Eu estava longe para conseguir tirá-la de seus pés, mas não longe para não ver quando o chute não acertou o alvo. A bola atingiu o rosto de Alice em cheio.

O jogo parou. Todos encarando a menina, que agora tinha uma boa parte da cara vermelha.

Ao invés de brigar, ela apenas começou a rir. Sua risada era contagiante, por isso comecei a rir também. Todos caímos na risada, mas o jogador que cometeu aquela proeza parecia mais rir de nervoso.

Vi quando ele começou a se aproximar com receio.

- Eu sinto muito, sério, me desculpe. - Ele começou a praticamente implorar. - Errei o caminho da bola, não queria acertar seu rosto.

- Está tudo bem. - Alice respondeu com um sorriso no rosto.

Pelo menos não tinha perdido os dentes.

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