Em Campo

027

Regret

- Alice Escobar -

Duas semanas desde que eu sai do hospital. Duas semanas desde que começaram a dizer que eu fui para o hospital duas vezes no mesmo dia. Duas semanas desde que são apenas boatos. Duas semanas desde minha última interação com Gavi.

Até que eu entrei no CT e dei de cara com o garoto na arquibancada, logo ao lado do vestiário feminino.

- Sou Invernal. - Declarou ele, agitando na mão o livro que vinha
carregando.

Arqueei uma das sobrancelhas e puxei a manga direita de meu uniforme.

- O quê?

- Li aquele livro que você tanto gosta. - Ele respondeu como se fosse a coisa mais normal do mundo.

- Ah sério? - Eu estava supresa. - Achei que não sabia ler.

Ele riu com a minha alfinetada.

- Aprendi por você. - Ele sorria. - Eu disse que sou da Corte Invernal. - Voltou para a primeira pergunta que eu havia feito. - Tenho quase certeza, na verdade. Fiquei meio na dúvida entre Invernal e Diurna, mas aí eu li uns artigos na internet e tenho quase certeza de que sou Invernal.

- Você leu Acotar? - Eu estava incrédula, assim como quando ele anunciou que tinha lido os livros eu tinha pensado que era brincadeira.

Ele confirmou com a cabeça.

- Li. Foi mal eu ter levado tanto tempo pra falar com você de novo, mas esses livros são enormes.

- Você... - Meu coração batia forte dentro do peito. - Você leu todos os livros?

- Todos os quatro, e agora estou contando os dias até o lançamento do próximo. Espero que não seja da Nestha, não gosto dela, por isso parei no conto.

Eu também, Gavira. Eu também.

- Por que você leu todos?

- Para a gente ter alguma coisa em comum. - Fechei meus olhos ao lembrar desse "acordo". - Além disso, eu queria que você desenvolvesse uma queda idiota e irrealista por mim, o que vai contra tudo aquilo em que você acredita.

Ele começou a folhear o livro, mostrando algumas de suas citações preferidas, que ele havia sublinhado. Ele falava depressa, comentando sobre as coisas de que tinha gostado mais e sobre as outras de que tinha gostado menos em cada um dos livros. Ele me revelou quem eram seus personagens preferidos, me contou os detalhes que o irritaram, e era como se soubesse exatamente do que estava falando.

Eu continuava perplexa com o fato de ele ter lido todos os quatro livros
só para ter algo em comum comigo.

Depois de me mostrar a última citação que havia sublinhado, ele fechou o livro e deu de ombros.

- E aí, você é o quê?

- Hein?

- Qual é a sua Corte?

- Ah. - Parei de puxar a manga do uniforme e voltei a prestar atenção na conversa. - Sou Noturna.

- Foi o que eu imaginei.