Liar
- Alice Escobar -
Meus ossos estavam cheios de gelo. Todo o meu ser queria vomitar. Estava saindo, cambaleando, de debaixo dele, me afastando, quase cai direto no chão e aquela sensação esmagadora de absoluto ódio por mim mesma perfurou meu estômago como o corte de uma faca afiada demais, grossa demais, letal demais para que eu permanecesse em pé e estava me agarrando a mim mesma, tentando não chorar e dizendo: não, não, não isto não pode acontecer isto não pode estar acontecendo eu amo Leo, meu coração está com Leo, não posso fazer isto com ele...
...e Gavira pareceu ter levado um tiro, como se eu tivesse colocado uma bala em seu coração com minhas próprias mãos, e ele levantou, mas mal conseguiu ficar em pé. Seu corpo estava tremendo e ele estava olhando para mim como se quisesse dizer alguma coisa, mas, toda vez que tentava falar, não conseguia.
- Sinto m-muito. - Eu balbuciei. - Sinto muito... Nunca quis que isso acontecesse... Eu não estava pensando...
Mas ele não estava ouvindo.
Ele estava balançando a cabeça de novo e de novo e de novo e estava olhando para as mãos como se estivesse esperando o momento em que alguém lhe diz que isto não é real e sussurrou:
- O que está acontecendo comigo? Estou sonhando?
Estava tão enjoada, tão confusa, porque eu o queria, eu o queria e queria Leo também e queria demais e nunca me senti mais como um monstro do que me senti naquela noite.
A dor estava tão clara no rosto dele que me matava.
Eu a senti. Eu a senti me matar.
Estava me esforçando muito para desviar o olhar, para esquecer, para descobrir como apagar o que acabou de acontecer, mas tudo em que conseguia pensar era que a vida é como um balanço de pneu quebrado, uma criança na barriga da mãe, um punhado de ossinhos da sorte. É tudo possibilidade e potencial, passos certos e errados na direção de um futuro que nem está garantido para nós, e eu, eu sou tão errada. Todos meus passos são errados, sempre errados. Sou a encarnação do erro.
Porque isso nunca devia ter acontecido.
Foi um erro.
- Você está escolhendo o morto? - Gavi perguntou, quase sem respirar, ainda olhando para mim como se pudesse cair. - Foi isso que acabou de acontecer? Está escolhendo um cara que morreu em vez de mim? Porque acho que não entendo o que acabou de acontecer e preciso que você diga alguma coisa, preciso que me diga que diabos está acontecendo comigo agora...
Naquele momento, suas palavras não me machucaram.
- Não. - Eu ofeguei. - Não, não estou escolhendo ninguém... Não estou... Não e-estou...
Mas estava. E nem sei como cheguei a isso.
- Por quê? - Ele questionou. - Porque ele é a escolha mais segura para você? Porque você acha que deve algo a ele? Você está cometendo um erro. - Ele falou, com a voz mais alta agora. - Você está com medo. Não quer fazer a difícil escolha e está fugindo de mim.
- Talvez eu apenas n-não queira ficar com você.
- Você sabe que quer ficar comigo! - Ele explodiu.
- Você está errado.
Ó, meu Deus, o que estou dizendo?
Nem sabia onde estava encontrando essas palavras, de onde estavam vindo ou de qual árvore as arranquei. Elas simplesmente continuaram crescendo na minha boca e, às vezes, eu segurava com força demais um advérbio ou pronome e, às vezes, as palavras eram amargas, às vezes, eram doces, mas, agora, tudo tinha gosto de romance, arrependimento e mentira por toda minha garganta.

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Em Campo
FanfictionAlice Escobar é uma jogadora de vôlei do Barcelona. Após um incidente em seu estágio de treino, o time feminino é obrigado a participar dos treinos de futebol masculino do Barcelona. Pablo Gavi é um jogador de futebol do Barcelona que, após um incid...