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Epilogue

- Davi Lucca -

Após o funeral e o enterro, eu e meu pai caminhamos até a casa em que Alice morava. Cada passo que eu dava parecia uma jornada dolorosa carregando um fardo insuportável de tristeza. Cada passo era como um mergulho em um abismo de emoções esmagadoras, um caminhar lento e penoso pelas ruas que antes testemunharam nossa alegria em família. Uma angústia avassaladora pesava em meus ombros, apertando meu peito com garras afiadas. O ambiente à minha volta estava imerso em um silêncio sombrio, como se até mesmo as paredes lamentassem a perda insuportável que tínhamos sofrido.

Ao adentrar na casa silenciosa, fui invadido por um aroma familiar que preenchia minhas narinas como um soco no estômago, trazendo consigo memórias doces e dilacerantes. Era um perfume nostálgico, um cheiro que era só dela. O doce aroma de suas flores preferidas, misturado com a melancolia da despedida, impregnava o ar e enchia meus pulmões de lembranças dolorosas. Aquele cheiro, uma mistura única que era só dela, era agora uma faca afiada que cortava meu coração em mil pedaços. Era difícil, doloroso sentir aquela fragrância sabendo que nunca mais poderia abraçá-la, que sua presença seria apenas uma lembrança etérea. Aquele cheiro me transportava para os momentos compartilhados, para os abraços calorosos e os sorrisos genuínos que agora só existiam em minha mente. Cada inspiração era como uma facada em meu peito, reavivando a sensação aguda de sua ausência.

Adentrei o quarto de Alice, e meu coração pareceu se contrair violentamente ao deparar-me com suas roupas espalhadas pela cama, como se ela ainda estivesse ali, indecisa sobre o que vestir. Cada peça de roupa era um lembrete cruel e vívido de sua presença ausente, uma lembrança dolorosa da falta de rapidez com que ela costumava se arrumar para os momentos compartilhados. Cada blusa, cada calça, eram testemunhas mudas da vida que agora estava interrompida. Cada peça era um fragmento de sua personalidade vibrante, uma extensão de quem ela era. Eu não conseguia evitar tocar nas roupas, sentindo a textura suave dos tecidos sob meus dedos trêmulos, desejando desesperadamente sentir sua presença mais uma vez. Eu não conseguia conter as lágrimas que inundavam meus olhos, e o soluço engasgado ecoava pelo quarto, como um lamento inconsolável. Eu queria gritar seu nome, implorar para que ela voltasse, mas sabia que isso era impossível. O grito de dor e desespero ficou preso em minha garganta, sufocado pela realidade implacável.

A angústia se entrelaçava com uma sensação de desamparo agonizante. Cada objeto ao meu redor parecia sussurrar os momentos felizes que compartilhamos, torturando-me com a lembrança de que nunca mais os viveríamos juntos. As sombras dançavam nas paredes, como espectros silenciosos que me observavam em meu sofrimento solitário. Eu queria desesperadamente gritar seu nome, implorar para que ela retornasse, mas sabia que minhas palavras ecoariam em vão, afogadas pela escuridão implacável da morte.

Caminhei até o quarto que havia sido preparado para mim, onde Alice tinha deixado sua marca com uma decoração incrível. Cada detalhe, agora sem vida, refletia seu amor e cuidado, como pequenos gestos de afeto que agora se tornavam dolorosas evidências de sua ausência. Era ali que eu costumava agradecê-la, expressar minha gratidão por tornar aquele espaço tão acolhedor. Mas agora, eu me encontrava em silêncio, afogado em um mar de solidão e desespero, sem poder compartilhar minhas palavras com ela, apenas sentindo o vazio sufocante que me envolvia.

No meio desse turbilhão de sentimentos, encontrei a carta que Alice havia escrito para Gavi. Estava pronta para ser enviada, mas permanecia em minhas mãos trêmulas, como um tesouro carregado de emoções. Com a carta de Alice em minhas mãos trêmulas, mergulhei nas palavras que ela havia deixado para trás. Cada frase era um portal para sua alma, um fluxo ininterrupto de emoções transbordantes. Enquanto eu lia, meu coração pulsava em sincronia com suas palavras, sentindo a dor, o amor e a saudade que ela expressava. Cada lágrima derramada era uma lembrança viva de nosso vínculo profundo, uma conexão que permaneceria para sempre em meu coração. Cada palavra ali escrita era como um fragmento de seu coração, suas emoções transbordavam nas linhas cuidadosamente traçadas, um eco de suas emoções. Segurei a carta contra o peito, sentindo a dor latejar em minhas veias, enquanto as lágrimas ardiam em minhas bochechas. Era a última conexão tangível que eu tinha com ela, uma mensagem não entregue, mas carregada de amor e saudade que queimava em meu peito como uma brasadeira ardente.

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