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Vulnerability

- Pablo Gavira -

O céu estava nublado, refletindo o turbilhão de emoções que agitava meu interior. A praia deserta estendia-se à minha frente, uma vastidão de areia fria e água agitada. Ali, no mesmo lugar onde Alice perdeu sua vida, eu me encontrava aprisionado em um mar de tristeza e remorso.

As ondas batiam implacavelmente na costa, ecoando o ritmo doloroso que pulsava em meu coração. Cada quebra daquelas ondas era um eco ensurdecedor da minha própria impotência. Eu me perguntava se havia alguma forma de ter chegado mais cedo, de ter sido capaz de salvar Alice daquele destino trágico. As dúvidas e "e se" continuavam a me atormentar, consumindo-me por dentro.

Sentei-me na areia fria, deixando-me envolver pela solidão e pela escuridão que pareciam se fundir em um só. As lágrimas escorriam pelo meu rosto, misturando-se à chuva que começava a cair, como se o próprio céu chorasse junto comigo.

A tempestade se intensificava, trovões ressoavam no horizonte, ecoando a tormenta que se desenrolava em minha alma. Eu me sentia perdido em um mar revolto de tristeza e culpa, navegando em águas desconhecidas, sem nenhuma bússola para guiar meu caminho.

Enquanto a chuva caía implacavelmente sobre mim, meu corpo se encurvava sob o peso avassalador da dor. Cada gota que tocava minha pele era como um toque gélido, reafirmando a realidade cruel que eu não conseguia aceitar.

Eu fechei os olhos, buscando encontrar conforto nas memórias de Alice. Seu sorriso radiante, sua risada contagiante, a maneira como ela iluminava cada ambiente em que entrava. Mas, mesmo nessas lembranças, a tristeza se infiltrava, lembrando-me de que esses momentos agora eram apenas um tesouro do passado.

A culpa me sufocava, como uma corrente apertada em meu peito. Eu me perguntava repetidamente se havia algo que eu poderia ter feito de diferente, algum gesto, alguma palavra, que pudesse ter alterado o curso daquela tragédia. Mas não importava quantas vezes eu revisitasse o passado, as respostas permaneciam inalcançáveis.

Enquanto a tempestade rugia em fúria, levantei-me da areia, sentindo a determinação brotar de algum lugar profundo dentro de mim. Era um misto de desespero e coragem, uma vontade de enfrentar a escuridão e encontrar um sentido para minha existência.

Caminhei pela praia, os passos hesitantes ecoando na solidão que me cercava. A água gelada lavava meus pés, arrancando as marcas invisíveis que a tristeza havia gravado em minha pele. O vento uivava ao meu redor, como se tentasse soprar para longe a dor que me consumia.

Mas, o vazio dentro de mim persistia, resistindo aos esforços da natureza. Cada respiração era um lembrete doloroso da ausência de Alice. Eu sentia como se uma parte de mim tivesse sido arrancada brutalmente, deixando um buraco negro que nada poderia preencher.

Enquanto caminhava ao longo da praia, as memórias de Alice se fundiam com as paisagens melancólicas diante de mim. Os momentos compartilhados, as promessas feitas e os sonhos compartilhados dançavam diante dos meus olhos como sombras fugazes. Eram fragmentos de um passado agora distante, um passado que eu não podia mais alcançar.

A cada passo, a angústia se intensificava. Eu me questionava incessantemente: "E se eu tivesse chegado mais cedo? E se tivesse sido mais atento? E se eu tivesse feito algo diferente?". Os "e ses" se multiplicavam em minha mente, alimentando o fogo da culpa que ardia em meu peito.

A chuva caía com mais intensidade, misturando-se às lágrimas que escorriam pelo meu rosto. O céu escuro refletia o turbilhão de emoções que se agitavam em meu íntimo. Eu me sentia um espectro solitário, vagando entre a realidade e o tormento do passado.

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