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Games

- Pablo Gavira -

- Como seria o seu governo? - perguntei.

Alice e eu estávamos de volta ao vestiário feminino. Já era noite e precisávamos dormir, por mais desconfortável que fosse.

- Quê? - Alice retrucou da escuridão.

- Além de poder tomar banho no vestiário masculino, que outras regras você criaria no nosso mundo de mentira?

- Regra número um. Ninguém fala depois que a luz é apagada.

Dei risada.

- Eu vetaria essa regra imediatamente.

Ela fez um ruído que poderia ser uma risada, mas também um suspiro.

- Porque nós governamos juntos no mundo Barcelona. - Virei de lado e me apoiei sobre um cotovelo, mesmo sem poder vê-la. Seu corpo era uma forma escura a uns cinco
metros de mim, e tentei me concentrar nesse contorno. - Minha primeira regra seriam os jogos. Teríamos que jogar.

- Jogos mentais?

Soltei outra risada.

- Você é boa nisso, mas não. Jogos de verdade.

- Tipo pôquer? - Ela perguntou, pegando minha linha de raciocínio.

- Isso, tipo pôquer.

- Você gosta de jogos. - Não era uma pergunta, era uma afirmação.

- Gosto. E você?

- Em especial os que tinham muitas etapas e instruções que me obrigavam a ficar concentrada, porque aí eu não deixava minha mente me atropelar. Só de falar sobre essas regras nesse momento já é relaxante. Estabelecer um senso de organização às vezes ajuda a me sentir segura. - Essa foi definitivamente a maior resposta que ela me deu desde que pisou no campo de futebol do Barça.

- Do que mais gosta?

Pensei que ela não ia responder, o que não teria me surpreendido, mas ela retrucou:

- Trilhas. Natureza.

- E ler? - Indaguei, lembrando das entrevistas que havia assistido.

- Sim. - Ela foi curta e grossa. - Também gosto de treinar.

- Essa pode ser a regra número dois. Você tem que treinar. Bom, a regra não faz nenhum sentido, mesmo assim vamos manter. - Provavelmente ela não via o meu sorriso, mas até eu podia ouvi-lo na minha voz.

- Não deve ter regras no nosso mundo. - Alice opinou.

- Tem razão. Essa vai ser a regra número três.

Dessa vez ela riu. Uma risada profunda, quente, que me fez sorrir mais. Era a primeira vez que eu a ouvia e esperava que não fosse a última. Deitei de costas.

- Boa noite, Escobar. - Pensei que não obteria respostas, assim como na última vez.

- Boa noite. - Ela respondeu.

Quando acordei, Alice já não estava mais no lugar dela. Eu me espreguicei. Considerando que tinha dormido no banco, havia dormido muito bem. Agora que estava acordado, tinha uma leve dor de estômago de fome e precisava fazer xixi, mas não queria me levantar. Fiquei onde estava por algum tempo, até não conseguir mais me segurar.

Depois de ir ao banheiro, bebi uma xícara cheia de água torcendo para conseguir enganar a fome. Funcionou um pouco. Em seguida voltei à diretoria, onde achava que tinha visto alguma coisa ontem enquanto procurava um alarme.

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