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The final chapter

- Neymar Jr -

A dor da perda pesava sobre mim como uma âncora no peito, arrastando-me para um mar de tristeza e desolação. Após sair do funeral de Alice, meu coração estava dilacerado, e a solidão envolvia cada fibra do meu ser. Caminhava pelas ruas vazias da cidade, enquanto o crepúsculo pintava o céu com tons de melancolia.

As lágrimas queimavam meus olhos, prontas para transbordar a qualquer momento. Era como se o mundo ao meu redor tivesse perdido sua cor e vida, tornando-se um mero cenário cinzento para minha tristeza. O som dos meus passos ecoava nas ruas desertas, ecoando a solidão que agora era minha única companhia.

Enquanto buscava refúgio em sua casa, uma sensação agridoce tomou conta de mim. Era estranho estar ali sem Alice, sabendo que nunca mais veria seu sorriso radiante iluminando o ambiente. Seu quarto era um testemunho silencioso do amor e da alegria que ela espalhava por onde passava.

Passei meus olhos pelas fotografias que adornavam as paredes, uma coleção de memórias congeladas no tempo. Cada retrato contava uma história, desde a infância até os momentos mais recentes ao lado de Leonardo, Gabriel e eu. As lágrimas borbulharam em meus olhos ao me deparar com as fotos de Alice e Leonardo juntos, um testemunho do amor que compartilhavam e das esperanças que tinham para o futuro.

Em outra foto, Alice estava rodeada por sua família adotiva, os tios que a acolheram desde cedo, e Gabriel, seu primo e meu melhor amigo. Éramos uma família peculiar, unida pelo amor e pelo laço indissolúvel que construímos ao longo dos anos. Agora, era apenas um sobrevivente, tentando lidar com o vazio que suas ausências deixaram em meu coração.

Minha visão se turvou quando encontrei as fotos de Alice com Davi, seu afilhado. O brilho em seus olhos ao segurar o pequeno nos braços era algo indescritível. Ela tinha um dom natural para cuidar dos outros e irradiava amor maternal em cada gesto. Davi agora estava órfão de sua madrinha, e isso me partia o coração.

Sentado na beira da cama de Alice, peguei meu telefone e disquei o número dela, sabendo que nunca haveria uma resposta do outro lado da linha. Aquele gesto era um ato de desespero, uma tentativa de me conectar com sua presença ausente. O telefone tocou e tocou, até que a voz do correio de voz preencheu o silêncio.

Sua voz, gravada com tanto carinho, ecoou em meus ouvidos. Cada palavra proferida era um fragmento de sua alma que me envolvia. Fechei os olhos, permitindo-me sentir a proximidade de sua voz, mesmo que fosse apenas um eco.

- Oi, aqui é a Alice. Deixe seu recado.

Ouvir aquelas palavras, pronunciadas pela própria Alice, foi um misto de consolo e tortura. Era como se sua voz estivesse ali, tão próxima e familiar, mas, ao mesmo tempo, eu sabia que nunca mais a ouviria pessoalmente. As lágrimas escorreram livremente pelo meu rosto, enquanto eu lutava para encontrar as palavras certas.

- Só isso? É esse o seu recado? Sério? A única vez em que eu realmente quero ouvir o som da sua voz e é só isso que eu ganho? - Desabei em soluços, a dor me sufocando. - Perfeito! Enfim... Eu estou no seu quarto, o que é muito menos estranho do que parece. Mas eu só queria dizer que... Eu sinto muito por ter te incentivado a vir para o Brasil.

Minhas palavras eram entrecortadas pelas lágrimas, minha voz trêmula e carregada de arrependimento. A culpa se misturava à tristeza, formando um nó apertado em meu peito. Eu me culpava por não ter previsto a tragédia, por não ter sido capaz de protegê-la do destino implacável que nos roubou sua vida.

- Eu não sei mais o que dizer... Ou o que eu deveria dizer. - Continuei, lutando para encontrar alguma forma de expressar minha dor avassaladora. - Exceto que... Indo contra todas as leis do mundo e desafiando todos os cenários possíveis... Talvez eu sinta a sua falta.

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