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Neighbors

- Alice Escobar -

Havia anos que eu não dormia tranquilamente. Quando eu conseguia cair no sono, não era algo relaxante como deveria, era apenas meu corpo implorando por um descanso depois de semanas sem dormir, depois de treinos intensivos após noites em claro, após uma crise que me fazia chorar até não conseguir respirar direito. Mas, naquela noite, eu estava indo dormir tranquilamente. Não havia choro, não havia exaustão, não havia voz alguma me fazendo recordar os piores episódios de minha vida.

Porém havia uma música ensurdecedora no apartamento número 14, o apartamento do décimo quarto andar. O último apartamento do prédio a ser ocupado.

Tentei dormir mesmo com aquele reggaeton que eles tinham arrumado.

Nem para ter bom gosto?

Fechei o travesseiro contra meus ouvidos com a intenção de diminuir o som ou algo do tipo. Não adiantou.

Eu sabia o que adiantaria.

Calcei o par de pantufas dos Banguela, que havia ganhado de Davi. Meu sobrinho havia comprado pares combinando do desenho. Neymar tinha uma pantufa do Dente de Anzol.

Desci as escadas do apartamento até a porta principal e fui em direção as escadas do prédio, que me levariam ao andar abaixo do meu.

Bati na porta. Ninguém atendeu. Bati de novo. Sem resposta. Bati outra vez. Nada. Bati uma quinta e, depois de um tempo, a porta finalmente foi aberta.

Eu reconheci a pessoa que me recebeu.
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- Pablo Gavira -

Era domingo.

Minha aula de direção com Alice tinha sido na sexta. Não nos falamos desde então. Algo me dizia que eu estava sendo evitado e continuaria assim por um tempo.

Tive a brilhante - nem tão brilhante - ideia de ligar para Pedri para conversar sobre a minha situação com Alice, talvez ele pudesse me dar um conselho horrível que me faria rir ou apenas me escutar.

Meu colega de time acabou se empolgando com a situação.

- Fofoca sobre a Neymar do vôlei? Isso tem que ser pessoalmente.

Foi o que ele disse pelo telefone.

Ele começou a demorar, então presumi que o mais velho apareceria na minha porta com uma caixa de pizza.

Não tinha como estar mais errado.

Pedri apareceu aqui com dois fardos de cerveja e mais quase metade do time. Raphinha tinha uma JBL gigante em mãos.

Demorei um tempo para acreditar que ele tinha feito aquilo.

- Era só uma ligação, agora eu estou em uma festa. - Reclamei para Pedri.

Estávamos encostados no balcão da cozinha com uma latinha em mãos, apenas prestando atenção na discussão entre Raphinha e Araújo, que era basicamente: funk ou reggaeton.

- Eu só fui comprar uma cerveja e acabei encontrando o Ferran. Comentei que estava vindo escutar uma fofoca sobre a "não namorada do Neymar" e ele animou. - Se defendeu. - Nem sei como tomou proporções tão grandes. Mas sei que todos estavam loucos para conhecer o apartamento que o jogador mais novo do time comprou recentemente.

Balancei a cabeça negativamente.

- Daqui a pouco algum vizinho liga aqui reclamando.

- Para de ser chato, Gavi, não vai acontecer nada.

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